Faço coro às palavras do escritor alemão Goethe: "A natureza é o único livro que oferece um conteúdo valioso em todas as suas folhas." Há um provérbio bíblico que diz o seguinte: “Um pássaro que anda longe do seu ninho: tal é o homem que vive longe da sua terra.”
Em meio a tanta gente morrendo em desmoronamento e uma infinidade de acidentes, viramos o ano. Saúde para dar e vender a todos! Sobrevivência, valha-me Deus. Comendo e bebendo, sem lenço e sem documento e seguindo a canção.
Tanta expectativa individual guarnecendo um colapso global. Os deuses copulam em seus berços esplêndidos liberando fluidos cálidos e radioativos. Dissecantes, dissonantes. As pobres sirenas, filhas da aberração, fustigadas, flageladas e enlouquecidas já não conseguem mais amar, engravidar, maternalizar. Destonteantes, desinteressantes.
O caos, que é o algoz necessário da criação, bate a porta de cada um de nós e a recebemos com copa, olimpíada, mega-sena, empréstimo, reforma, carro novo, investimento, portabilidades, faculdades, viagens e etecéteras. O caos entra e valida de casa em casa, anestesia de consciência em consciência, ilude de utopia em utopia.
O anarquista e filósofo suíço Jean-Jacques Rousseau, há 300 anos, disse que “a natureza fez o homem feliz e bom, mas a sociedade deprava-o e torna-o miserável" e penso que ele foi superficial, posto que o insight nu e cru dele (tanto quanto os meus), não expõe os excrementos aos narizes, apenas encandeia a noção.
Pobres crianças. Invadimos os seus berços para alforriar nossos demônios e contaminar toda a ecosfera de seus leitos virginais e plácidos.
Pobres velhos. Ombros cansados, joelhos trementes. Recebem todo in/consciente coletivo do descaso, da ingratidão. Suas cãs já não são troféus. Toda a sua virilidade e hombridade são profanadas e o seu canto de repouso e sossego é brutalizado como uma donzela nas mãos de bárbaros.
Pobres mulheres. Afetamos os seus desejos venéreos, sensoriais, emocionais; vitais. Elas se tocam, por falta de toques sinceros, sonham por falta de realidades, se fecham por medo, se entregam por desespero. Se tornam placebos na cama, insossa na cozinha e fugazes no relacionamento.
Pobres homens. Transam com os seus egos – o intra-sexo do ególatra –, bebem e fumam para suportarem a melancolia e a rotina, saem com os amigos para a catarse da culpa, da irresponsabilidade, da injustiça. Pervertem as sociabilidades da vida – beber, comer, tragar, entreter, relacionar – em função de sua doença emprenhada e generalizada.
Hasteando bandeiras, vamos construindo trilhas claudicantes por cima dos abissais, dos abismos e dos absintos apocalípticos. O fel há de invadir as frestas dessas trilhas e toda rosa há de murchar, toda raiz há de secar. A alma do Homem é um grande ermo e a pregação do evangelho está acelerando a sua savanização, posto que a ‘boa nova’ também foi contaminada com a seiva da morte.
O fim está próximo porque está dentro de nós e todo cataclismo começa do micro para o macro, de dentro para fora. O fim universal é o coletivo do fim individual e este evento indatável, imprevisível e especulável, será confrontado com aquilo que cantou Caetano Veloso e que eu não me canso de reverberar: “E as coisas que eu sei que ele dirá, fará, não sei dizer, assim, de um modo explícito e aquilo que nesse momento se revelará aos povos surpreenderá a todos, não por ser exótico, mas pelo fato de poder ter sempre estado oculto, quando terá sido o óbvio”.
Retornando ao espírito constante nas palavras do Goethe e do provérbio bíblico, no primeiro parágrafo, a natureza revela que o Homem está desaninhado e que é preciso, ao menos, salvar alguns seres implumes a fim de que, não salvando o mundo inteiro, salve a quem estiver mais próximo. Se o fim está dentro de nós, se o mundo é a nossa mente, vamos reflorestar o que for possível.
Feliz 2010 para você.
Agora, assista a este vídeo.
Leia também:
O segundo Sol
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O ególatra
Quem são elas? De onde elas vieram?
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Fagulhas do Evangelho A incrível e deturpada onipresença divina
Em meio a tanta gente morrendo em desmoronamento e uma infinidade de acidentes, viramos o ano. Saúde para dar e vender a todos! Sobrevivência, valha-me Deus. Comendo e bebendo, sem lenço e sem documento e seguindo a canção.
Tanta expectativa individual guarnecendo um colapso global. Os deuses copulam em seus berços esplêndidos liberando fluidos cálidos e radioativos. Dissecantes, dissonantes. As pobres sirenas, filhas da aberração, fustigadas, flageladas e enlouquecidas já não conseguem mais amar, engravidar, maternalizar. Destonteantes, desinteressantes.
O caos, que é o algoz necessário da criação, bate a porta de cada um de nós e a recebemos com copa, olimpíada, mega-sena, empréstimo, reforma, carro novo, investimento, portabilidades, faculdades, viagens e etecéteras. O caos entra e valida de casa em casa, anestesia de consciência em consciência, ilude de utopia em utopia.
O anarquista e filósofo suíço Jean-Jacques Rousseau, há 300 anos, disse que “a natureza fez o homem feliz e bom, mas a sociedade deprava-o e torna-o miserável" e penso que ele foi superficial, posto que o insight nu e cru dele (tanto quanto os meus), não expõe os excrementos aos narizes, apenas encandeia a noção.
Pobres crianças. Invadimos os seus berços para alforriar nossos demônios e contaminar toda a ecosfera de seus leitos virginais e plácidos.
Pobres velhos. Ombros cansados, joelhos trementes. Recebem todo in/consciente coletivo do descaso, da ingratidão. Suas cãs já não são troféus. Toda a sua virilidade e hombridade são profanadas e o seu canto de repouso e sossego é brutalizado como uma donzela nas mãos de bárbaros.
Pobres mulheres. Afetamos os seus desejos venéreos, sensoriais, emocionais; vitais. Elas se tocam, por falta de toques sinceros, sonham por falta de realidades, se fecham por medo, se entregam por desespero. Se tornam placebos na cama, insossa na cozinha e fugazes no relacionamento.
Pobres homens. Transam com os seus egos – o intra-sexo do ególatra –, bebem e fumam para suportarem a melancolia e a rotina, saem com os amigos para a catarse da culpa, da irresponsabilidade, da injustiça. Pervertem as sociabilidades da vida – beber, comer, tragar, entreter, relacionar – em função de sua doença emprenhada e generalizada.
Hasteando bandeiras, vamos construindo trilhas claudicantes por cima dos abissais, dos abismos e dos absintos apocalípticos. O fel há de invadir as frestas dessas trilhas e toda rosa há de murchar, toda raiz há de secar. A alma do Homem é um grande ermo e a pregação do evangelho está acelerando a sua savanização, posto que a ‘boa nova’ também foi contaminada com a seiva da morte.
O fim está próximo porque está dentro de nós e todo cataclismo começa do micro para o macro, de dentro para fora. O fim universal é o coletivo do fim individual e este evento indatável, imprevisível e especulável, será confrontado com aquilo que cantou Caetano Veloso e que eu não me canso de reverberar: “E as coisas que eu sei que ele dirá, fará, não sei dizer, assim, de um modo explícito e aquilo que nesse momento se revelará aos povos surpreenderá a todos, não por ser exótico, mas pelo fato de poder ter sempre estado oculto, quando terá sido o óbvio”.
Retornando ao espírito constante nas palavras do Goethe e do provérbio bíblico, no primeiro parágrafo, a natureza revela que o Homem está desaninhado e que é preciso, ao menos, salvar alguns seres implumes a fim de que, não salvando o mundo inteiro, salve a quem estiver mais próximo. Se o fim está dentro de nós, se o mundo é a nossa mente, vamos reflorestar o que for possível.
Feliz 2010 para você.
Agora, assista a este vídeo.
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