Fagulhas do Evangelho | A incrível e deturpada onipresença divina

Certo personagem da bíblia, embasbacado com a incognoscível imensidade divina, tece uma frase milenar:

“Se subir ao céu, lá tu estás;
se fizer no inferno a minha cama,
eis que tu ali estás também”

O conhecimento humano é limitado desde o dia em que o seu espírito e carne se conectaram em alma vivente. Desde quando houve um auto-manejamento do conhecimento, como infração num dado momento da narrativa humana - o orgasmo psíquico em se ter uma consciência auto-perceptiva, tentadora e endeusadora – o comer do “fruto proibido”. Deus se relacionou com o Homem e o Homem sempre especulou sobre Deus. Uns erraram feio, outros acertaram, porém não em sua totalidade, pois quem pode esquadrinhar o Senhor do tempo e da vida? Vieram os profetas e assim arriscaram suas impressões sob suas inspirações conforme suas inteligências e experiências espirituais.

Porventura não encho eu os céus e a terra?

“Deus estava em todos os lugares e todos os lugares não podiam conter a presença dele” – assim se cria. Sem uma noção de física e do encargo e peso de algo cientificamente comprovando a ubiqüidade de um ser, acreditava-se que “Deus estava em todos os lugares”. Aliás, em tempo de ignorância, o que se mais pratica, é a crença. Crê-se sem muita informação, sobrando especulação e a partir dos princípios de crença, fundam-se as correntes teológicas. É bem verdade que todos somos ignorantes a cerca da desmedida realidade divina. Somos compelidos, mesmo diante de toda visão que Deus possa dar a um certo indivíduo, a apenas tatear essa realidade imensa que cerca aqueles que crêem. E a residência do problema se dá em nosso ponto de partida de crença. Quando os profetas e outros diziam que Deus está em todos os lugares, eles jamais queriam dizer que todas as coisas não estão nele.

O céu é o meu trono,
E a terra, o estrado dos meus pés.
Que casa me edificareis? diz o Senhor,
Ou qual é o lugar do meu repouso?

Apenas afirmavam uma constatação divina, que onde quer que vá, ele ali está. Simplesmente isso. Não era uma tentativa de geografizar, confinar Deus e concluir: “Bem o Homem não consegue estar dois lugares ao mesmo tempo, já Deus, consegue estar em dois, três...., logo, essa é a nossa diferença, eu em um lugar, Deus em vários lugares”. Depois desta geografia divina, até elegemos os lugares em que ele não habita. Deste modo, mesmo dizendo que “Deus é Deus”, assim mesmo delimitamos sua realidade. Pode ser que apenas falta honestidade própria para assumir esta forma de crer. Como é difícil crer num Deus grande sem costurar uma compreensão que comprometa sua divindade, sem apequená-lo aos nossos modos de entender e sem dominar o “conteúdo” da crença.

Mas, na verdade, habitaria Deus na terra?
Eis que os céus, e até o céu dos céus,
não te poderiam conter, quanto menos
esta casa que eu tenho edificado.
(Lindo!)

Quando uma bárbara catástrofe acontece, logo perguntamos: “onde Deus está?”, “Ele não viu?”, “Ele se afastou por causa da iniqüidade?” Todas essas questões apontam para um suposto problema geográfico e moral, pois se Deus estava em tal tragédia, por que ele permitiu que tantos inocentes morressem (“crianças”, para aqueles que têm dificuldade com a palavra “inocente”)? E se ele não estava, por que não chegou a tempo de impedir? Sem me deter na questão moral, mesmo apesar de que ela está atrelada com a problemática geográfica gerada, creio que deveríamos pensar sobre Deus, sem incuti-lo em nossos problemas, nossas glórias e em nossa realidade de modo irresponsável no que tange a nossa pequenez em compreender sua grandeza. Precisamos aceitar que Deus está em todos os lugares, porque tudo está nele e ponto final.


“Se subir ao céu, lá tu estás;
se fizer no inferno a minha cama,
eis que tu ali estás também”

Ora, se Deus está no céu e no inferno, não seria porque todas as coisas estão nele? Logo, se todas as coisas estão nele, ele não pode se ausentar de nada, inclusive, ele tem “de se fazer presente” até quando “não queremos mais estar nele” e que se consolida na morte eterna.

O inferno está nu perante ele, 
e não há coberta para a perdição.
(Lindo Jó!)

Tudo acontece nele, diante os seus olhos. Na palma da mão eterna. Seja lá o curso que a vida se embrenha nesta Terra e neste Universo, seja lá curso que outras vidas se embrenham em outros universos, Deus está em tudo por tudo está nele. Por hora, ele esculpe sobrenaturalmente em nosso cotidiano e quando não intervém, tudo acontece nele e acontece no firmamento da naturalidade que ainda é a epiderme divina, onde o Homem segue o curso da vida: nasce cresce e morre. E se tudo acontece nele, seja bom ou seja mal, acontece porque este “chão divino” permite que a própria existência se crie, se procrie, se destrua e se desenvolva. É aí que reside a culpalização divina eleita pelo Homem: “Deus permite a tragédia”. Sofisma de quem crê, porém se perde por achar que Deus não é “Deus segundo Deus” e sim, Deus é apenas o que a sua compreensão fomenta sobre Deus.

Em Jesus, cordeiro morto antes da própria criação, não nos tornamos apenas Um em existência, (haja vista que na existencialidade, co-existem tudo o que há) mas em vida e vida em abundância. Estes são os seus filhos, seus amados que perderam a própria vida em troca de um “pouco mais” desta unidade criativa e que, diga-se de passagem, é vital para a eternização daquele que nele crê dentro do seio divino, eterno e soberano.

Para onde fugirei da Tua face?

Asas da Alva
Prisma Brasil
Senhor, Tu me sondas-te e me conheces
Conheces o meu deitar e meu levantar
Por onde eu irei do Teu Espírito?
E pra onde fugirei da Tua face?
Se tomar as asas da alva
Se habitar nos extremos do mar
Até ali a Tua mão me guiará
Tua destra me susterá
Se disser que as trevas me encobrirão
E a noite escurece ao redor
As trevas e a luz são iguais pra ti
Noite brilha como o dia
Se tomar as asas da alva
Se habitar nos extremos do mar
Até ali a Tua mão me guiará
Tua destra me susterá
Eu te louvarei, louvarei
Eu te louvarei Senhor
Ó Pai Te louvarei, louvarei
Louvarei
Tu criaste-me Senhor
Formaste-me antes de nascer
Te louvo porque de um modo maravilhoso
Tu me formaste
Se tomar as asas da alva
Se habitar nos extremos do mar
Até ali a Tua mão me guiará
Tua destra me susterá
Estarei nos braços de Deus
Discípulo teu.

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