Moisés Lourenço |
Nasci poucos dias antes da Pioneer 11 descobrir e fotografar os anéis de Saturno. Exatamente, nasci no dia do folclore. Mais um dia de santo enquanto eu nascia aos berros.
Cresci entre contextos históricos e revolucionários como o Plano Real, o Impeachamant, a queda do muro de Berlim, Perestroika e Glasnost, Bateau Mouche, internet, celular, cd, dvd e etc.
Sou rude, paciente, impaciente, de bom humor, justo, injusto, falo pouco, falo muito, insistente, assistente, persistente, atento, tragável, intragável, ansioso, despretensioso, carismático, cabeça dura.
Boa parte de minha vida eu freqüentei a igreja evangélica Assembléia de Deus e igreja Batista.
Ao freqüentá-las, passei a me confrontar e moldar a minha espiritualidade e a partir de então, essas experiências moldaram o meu modo de viver e relacionar com as pessoas.
É óbvio que quando digo isso, não digo que fui afetado drasticamente por elas, mas sim, por quem elas tentavam pregar.
A mensagem do evangelho validou em mim uma maneira de viver elegendo o amor como parâmetro.
Tive e tenho bastante amigos de todo tipo e de toda intensidade. Hoje olho para mim e vejo que se há amor para reverberar, a amizade é o veio disso tudo.
Mesmo levando em conta todas as aventuras e desventuras, entendimento e desentendimento com a minha família e amigos, eu me considero alguém que é o que é graças a abundância de alegria, união e visceralidade.
“Eu e os meus” e o “eu dos meus”, somam uma extensa experiência e episódios conflitantes, onde o “todos por um” fortalecia o elo, robustecia a compreensão daquilo que estávamos engajados, ventilava a consciência sã e unia sem titubeios nos momentos turbulentos.
Gosto tanto de música que sinto que ela é quem me possui. Aprendi a tocar violão e me especializei no contrabaixo tocando com meu irmão Djean e com os meus amigos Tom e Tiquinho.
Tocando em enterro, igreja, estúdio, shows, casamento e outras festas, as ondas de freqüências musicais ocuparam desde os meus poros até o universo de meus pensamentos.
Assim, a música me ajudou a dilatar a sensibilidade e percepção no que tange àquilo que não é apreciável logo de cara mas que é digno de apreciação.
Não.
Não sou uma logorreia ambulante. Tenho paixão por escrever aquilo que penso e vivo. Falar com eloqüência, dominar platéia e se deliciar com o microfone não é minha excitação.
Se for para sair do papel do Word, me encontre com amigos em torno duma mesa a fim de dialogar, rir [ou chorar, se for o caso] e encontrar caminhos juntos para qualquer tipo de “tese” ou “tratado”. Sempre regado da uruguaia Norteña.
Sou o que eu acredito e sou o que eu aprecio e minha peregrinação é uma coletânea de começo, meio e fim. Dia após dia. É por isso que vivo sem dever nada a mim mesmo. Esgoto a vida até o último segundo da noite. Curto e disseco o que há de bom e o que há de ruim até o fim.
Amo cuidar e aprecio o desenvolvimento.
Resiliência a flor da pele. Sentidos e sensores apurados. Trituro tudo, mastigo até o bagaço, rôo até o tutano.
Difícil descansar mesmo quando repouso no ócio e na solitude. Meu ser é meu mundo não-mapeado. Meus mistérios são meus tesouros. Minha mente notívaga, minha mente laboriosa.
Não curto superficialidade em definir as pessoas e me relacionar a partir daí. Isso cria uma indiferença generalizada e cinismo.
Para mim, as coisas têm que ser intrínseca ainda que seja efêmera, pois assim, tudo será bom enquanto durar e tudo será marcante e inesquecível quando olharmos para trás.
Sofrer?
Quem evita o sofrimento é egoísta. Somente o egoísta se esquiva de tudo, por cima de todos para eternizar o seu prazer. Prazer a custa do descompromisso.
Prefiro me relacionar e sofrer o preço da crise, pois tudo que se choca, com sentido de aproximação e vínculo, “sofre terremoto” e deste modo se vive e permite que outra pessoa, viva. Todo inicio de ciclo, de era, é precedido pelo caos. Toda linearidade tem um limite e todo mar de rosas fenece.
Com espinha ereta, olhos atentos, mãos trementes, ombros cansados, coração tupiniquim, brasilidade em ebulição, pernas pra que te quero, escutando "depois dos temporais" vou misturando o vinho da vida com a água da vida.
Não sei quantos dias viverei e às vezes, isso não faz a menor diferença.
Meta? Objetivo? Propósito?
Isso são opções de pontos de vista que conforta o dia chamado “hoje” de alguns.
Expurguei-me disso quando constatei que o que sou ou estou a caminho de ser, vai apenas confirmando a vida e utilizo-a [a vida]como potência para significar tudo o que existe.
Resumindo: não existe meta que me faça ser alguém, pois sou alguém desde quando meta não era meta, meta era e é apenas pedágios da vida.