A INEXISTÊNCIA E A EXISTÊNCIA DE DEUS


Ninguém prova a existência e ninguém prova a sua inexistência. Sim, é possível provar a inexistência de algo quando se pode verificar todo o perímetro, atestando que tal coisa não existe (não foi encontrado) ou descobrindo-se de onde saiu a tal ideia, evidenciando a origem do folclore.

- Eu acredito em papai Noel.
- Eu não acredito em papai Noel.
- Por que você não acredita? Você pode provar que ele não existe?
- Você é quem deveria provar que ele existe.

Desconfiar de que haja um deus criador não é ignorância. A metade dos grandes pensadores não eram pessoas ignorantes e não se divorciou do fator deus. A outra metade era ateia, porém muitos morreram descrendo com suspeições: “não acredito que haja um deus, mas, às vezes, olho pro céu e pergunto ‘Você existe? Se você está aí, por que não me responde? ’”

Ou seja, se afirma que não existe baseado na impossibilidade de prová-lo, porém como também não se prova a inexistência, o ateu sensato vive sem crer, mas com a lúcida ideia em mente: “não creio, mas pode ser que ele exista, pois não tenho como provar o contrário”.

A verdade é que  o forte pensamento ateu, em sua raiz, é uma briga com a religião. A religião que tentou provar Deus e, mais, que cometeu barbáries em nome de Deus, se tornou a ignição do ateísmo ativista desses últimos séculos. Ateísmo deixou de ser “não acredito porque nunca vi, mas também não sei se ele não existe...” para ser “Eu tenho certeza que ele não existe, certeza absoluta!”. Ou seja, virou uma espécie de religião, de fé, haja vista o Dawkins, que parece ser o Silas Malafaia às avessas.  

Alguns ateus não agem como religiosos que têm a fé como evidência. Nunca dizem que a inexistência de deus é uma verdade absoluta. Para esses, deus é uma incógnita e nada mais que isso (não deixam de ser ateus por causa de uma interrogação). Esses sabem que, além de deus ser um folclore, patrocinador dos dogmas mais bizarros da história por culpa de “seus representantes da Terra”, deus é uma incógnita que influência toda a humanidade, de todos os tempos e de todos os lugares. E o que é inegável é tratado como “um mistério” e não como uma invenção.

Há um mistério. Admitam os neoateus ou não, existem experiências de forças boas ou ruins que se manifestam na humanidade. Achar que essas experiências são “fenômenos naturais que ainda não são explicáveis”, é dar razão com a mesma proporção do religioso, quando, este, explica o que ele não entende ou entende conforme a sua cartilha religiosa.

Noel é fácil de ser “desmascarado”. Ele não nasce numa tribo remota, no meio do nada. Noel não causa fenômenos inexplicáveis. Noel, em sua versão má, não causa influência negativa e paranormal no indivíduo. A ideia de deus e diabo nasce em todo lugar, até mesmo antes do nascimento da religião nesses lugares, marcando presença com fenômenos inexplicáveis e nunca sendo “uma necessidade que brota do nada na mente do ser humano”. É superficial e leviano achar que a crença de um ser tribal é fomentada por um avião avistado que o fez pensar que se tratava de um deus. A falta de conhecimento é ignorância, igualmente a generalização dos evoluídos em face do ignorante, julgando toda a bagagem vivida dele por um episódio tolo.

Se esse mistério residisse apenas no campo filosófico, não se sustentaria. Se esse mistério fosse apenas teatro e marketing religioso, já teria falido. A “fabricação” de um deus por conta deste mistério, que visa forjar poderes a religião é o deus que concebe este ateísmo absolutista. Reclamam tanto de que a religião é a instituição da tirania e não veem que este tipo de ateísmo se utiliza do mesmo metiê, pois se sustentam no absolutismo ao inverso. O problema está no Homem, que cria um fundamentalismo para combater outro fundamentalismo; cria a verdade absoluta [existência] para combater a outra verdade absoluta [inexistência], tornando os dois lados, lados opostos da mesma moeda. Um diz que prova, o outro diz que prova também.

Não se provou a inexistência de Deus, como se provou a farsa do chupa-cabra. Não se perscrutou o universo, realidades paralelas e todo o multiverso para atestar a sua inexistência e não se pode negar a experiência mística que fez ateus sérios a tratar o assunto como “incógnita”. Isso não os tornou religiosos quando negaram ser ateus absolutistas, macaquinhos de Dawkins.

OVNI – nunca vi. Alguns já viram e investigações apontam como “FATO inexplicável”, ou seja, aparição não identificada. Posso dizer que só ignorante acredita? Posso vestir camiseta dizendo “sou ateu, graças ao et”? E em contrapartida, posso anunciar que os óvnis existem e que devemos todos nos converter a eles? Posso dizer que os óvnis não gostam de corintianos? Posso dizer que óvnis querem que todos sigam o padrão moral que ele determinou? Ou não seria óbvio eu concluir que óvni é uma incógnita?

O ser humano não se torna melhor emplacando uma verdade absoluta sobre outra verdade absoluta. Deste modo, ele apenas continua o mesmo. Tanto é que as maiores e melhores críticas vêm dos seus próprios currais: ateus críticos do ateísmo, religiosos crítico da religião.  Quando um se coloca em pé de guerra contra o outro é porque as partes já se absolutizaram (releia o exemplo do óvni).

Quando existe briga entre ciência e a ideia de deus? Quando alguém se utiliza por conta própria da ciência para digladiar contra a religião e quando alguém se utiliza por conta própria de deus para digladiar contra o ateu. Dois tipos de crentes e dois fundamentalistas. Os dois se colocam como embaixador da ciência ou de deus para atacar um tipo de pessoa; nunca deus ou a ciência, sempre o religioso ou o ateu.

O atrito entre o ateu e o religioso é de longe, válido. Se toda a fé cristã se resumisse na práxis da madre Teresa, que viveu em favor dos carentes do planeta, não haveria um ativismo forte para provar que Deus não existe e para acabar com a sua fé. A fé da madre seria louvada por ateu e por qualquer outro religioso. O ateísmo nem existiria. Existiria apenas o “atoa”... “não acredito que exista um deus, mas se esse deus da madre existe, o cara é gente boa”. Não haveria ódio e nem surtos de “certeza de inexistência”... Haveria apenas, um mistério admirado pelo bem que ele causasse em seus fiéis e pelo fato de que existem coisas que acontecem e que não se explica.

Quando a opinião é defendida com energia [quase atômica] é porque ela já virou uma verdade absoluta e cega, seja ela religiosa ou cética. 90% do seu teor é apenas um esforço intelectual para sucumbir o outro. Toda interrogação e mistério vira exclamação e obviedade para minar o seu opositor. Interrogação vira sinônimo de fraqueza e a certeza de que o universo conspira conforme tal opinião vira inteligência.

Alfaces na cadeia alimentar medindo o tamanho do buraco negro com seus polegares...

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