Um dia ele nasce

Um dia ele nasce, lembrando aquele dia mais ingênuo, simples e alegre; um dia ele nasce. Será incrível aquele momento. O sol já vem rompendo as nuvens que se dispersam. Vê o arco-íris, a luz dispersa a escuridão. A fina chuva cai anunciando a nova estação; a densa noite já se enfraquece. Lembra do momento mais apaixonante de sua vida? Lembra? Lembra do coração acelerado e feliz? Aplique uma dose de eternidade, some todas as cores possíveis, tire as possibilidades de “tempos difíceis”, amplie os pequenos gestos, intensifique os cheiros e embeleze com vinho aos adultos e gangorra para as crianças...

O que podemos fazer, façamos, todavia, nada costurará um milímetro deste dia, pois o máximo que podemos fazer é experimentar este dia-futuro, hoje. E experimentar não é tecer. O que somos hoje, e que insistimos na sua manutenção, é uma versão inspirada, arranjada e forjada. Estamos sendo a melhor versão de nós mesmos. É o que temos de fazer e de nos tornar. Não confie em sua sabedoria, nem no lindo amor que você põe naquilo que acha bom e vital, pois o dia que você mais se aproximou do Eterno, você não viu e nem ouviu. Você não percebeu. Nossa sabedoria e bondade nos engana e nos ilude. Apresenta-nos uma versão da versão do divino.

E não me recrimine, não minto, e não se esforce para achar o ponto de contato. Só uma criança pode sentir as vibrações da pureza da vida; do jardim encantado. Nossos jardins, poético e belo, já não são mais puros. Todavia, um dia ele nasce e surpreenderá a todos. Você está cansado, mal-humorado, enjoado? Você dificilmente sorri? Só vê coisas ruins? Talvez você esteja certo no que vê. Não aposte que você esteja velho e ranzinza demais! Um dia ele nasce e surpreenderá a todos. Não queira não ser surpreendido, até mesmo porque você não conseguirá. Mas quando o sol brilhar mais forte e você for abduzido da escuridão de nosso mundo, da relatividade dos anseios e da ambigüidade dos caminhos, você dará razão ao Dia que acaba de nascer. 

O dia será de sorriso, vinho e gangorra para sempre e sempre.

Um comentário:

de-à-si disse...

Excelente texto,Moises!!!