O ADULTÉRIO DO PECADO

O salário do pecado é a morte e o seu adultério é o cachê do Homem

Muitos defendem “a lista”. O que pode e o que não pode. O messias veio, morreu, ressuscitou e perdoou o pecado humano, porém, o tal pecado pode nos condenar de novo, segundo a lista. É como se o intento de Cristo, se reduzisse a um ato simbólico, pois quem teria de superar os seus próprios pecados a fim de se salvar, seria o próprio Homem.

As reafirmações de Jesus que encontramos nos quatro evangelhos, onde o próprio intensifica algumas velhas leis, são tidas como uma nova tábua para muitos. Já não é um parâmetro onde Jesus prova a nossa incapacidade e insuficiência para cumpri-la.

É muito mais conveniente tratar o pecado como “ATO que tem direta e suficiente implicação no julgamento humano com o passar da régua”. Tratar o pecado como “ESTADO inerente, indissociável, inviolável e intrínseco que compõe a estrutura da alma em seu estado germinal” e não mais que isso é um ultraje sísmico.

Devo deixar a notícia de que Jesus não era um mestre apenas, era o senhor das leis. Quando ele as anunciava, não fazia apenas como um mestre, ele ensinava como “quem tinha autoridade” e ele se fez valer disso para ser o ponto de convergência que definiria, desde então, a relação do estado humano com a excelência divina.

A questão deixou de ser a discussão dos atos a fim de que se renda ao estado. A força do julgamento a partir dum parâmetro com tábuas e regras se caduca e se esvazia com o olhar de redenção a todos os homens e mulheres. Pecado deixa de ser uma brincadeira de pode-não-pode, para ser tratada como um estado humano, que vai se definindo em definhamento ou numa maturidade agradável aos olhos de Cristo.

Quem não trata o tema “pecado” levando em conta que o ato que condena o ser humano é o ato que diz a respeito ao “dízimo” do estado miserável em que esta pessoa decide viver, elege o tal ato como um fim isolado para a própria condenação, não discernindo a redenção de nosso Senhor.

Deus não olha por trechos da vida humana, ele enxerga a partir de “quem é o homem” não necessariamente julgando-o, ora condenando, ora salvando conforme seus atos vergonhosos ou corretos, com um dossiê individual que faça distinção a fim de pesar se houve mais acertos ou erros. Caso assim fosse, um simples delito cometido por alguém que morresse logo em seguida, não dando tempo sequer de confessar a Deus, maquinalmente, este já estaria condenado.

Até um ateu é capaz de concordar de que se há um Deus, de verdade, grandioso, ele deve estar para além desta visão episódica, que se prende numa cena da vida para julgar alguém.

O pecado foi adulterado para servir a religião que, por sua vez, se interpõe entre o medo e a salvação. É conveniente se utilizar do pecado pelo viés de “atos suficientes para condenar o Homem” a fim de estabelecer o medo e a paranóia como contraponto. Jesus nunca cogitou isto, muito pelo contrário, disse que veio para os pecadores e para desbancar os autojustos. Ele preferia se relacionar com pecadores que poderiam se revelar pessoas dignas a ter de freqüentar terapias e campanhas de santificação através do medo e autoflagelo.

O pecado como um estado humano dispensa julgamentos que contabilize mais acertos ou erros, mas não dispensa os tais acertos e erros que forjam o caráter humano. “Quem você é”, diz mais do que “aquilo que você está cometendo”, pois duas pessoas podem cometer o mesmo erro e ter motivações diferentes, ou seja, um ato pode dizer coisas diferentes entre duas pessoas infratoras.

Para concluir, ressalto que é inegável que o messias cumpriu a lei, intensificou a lei, se tornou mestre da lei, senhor da lei e expirou sobre si a dita lei. Não há regra que condene o Homem. Agora, só há regra que comprometa a liberdade humana proclamada pelo seu Libertador e que no final das contas, colher-se-á aquilo que ele plantou com suas próprias mãos.

O curso da vida é responsabilidade individual, quer escolhamos o caminho bom ou não. Seremos julgados por aquilo que nos destinamos.

A vida é uma sucessão de experiências e além de Deus se relacionar com os fios da vida, o resumo da ópera está nas mãos dele. Cuide-se para que não caia, afinal somos forjados pelo modo de vida que levamos. Não se iluda com sua sessão no confessionário.

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