ADEUS, 2011

“...Mais um ano se passou...” – Estou feliz, apesar dos pesares, envelhecendo com o planeta (é possível que eu morra antes do planeta), abismado com os que choram, rindo com quem ri, gargalhando dos estúpidos reis com seu mundo estéril e constatando que o mundo é cheio de vãs repetições que nos ilude, nos encanta e faz-nos suportar o “day-after-day”. O banal como crucial <-> O crucial como banal.
Estou feliz e não espero nada no próximo ano que (e que espero para hoje) não seja o vital para todos nós, inclusive, vitalidade para digerir o banal com sua evacuação mais célere.

Em tudo existe uma beleza, da tragédia às galerias de cultos estéticos. É neste mundo estranho e belo, que nos apequenam ou nos iludem aos ares, onde temos de viver e onde garimpamos a felicidade. É neste mundo estranho e belo que dormimos no colo da mãe e acordamos com a necessidade da ganhar dinheiro, estabilidade e realização pessoal. A vida voa tão depressa que não nos espera para fazer análises, correções e recomeços. O tempo vira o vilão e as seqüelas começam a aparecer.

Por isso proponho o seguinte: não divida sua vida por seções de 365 dias. Tire os pedágios que te barram todo ano. Assim, sua vida não será interrompida para que você se dê conta que você tem um ano a menos de vida. Tire os capítulos e versículos de sua vida. Sua vida deve ser um livro sem interrupções, deste modo você terá mais chance de vê-la como um grande tapete, onde seus fios e linhas se entrelaçam e se entendem como um todo, sempre. Deste modo, a sua imaturidade, suas traquinagens, suas virtudes, seus odores, suas superações e aprendizagens, sua maturidade e finalmente a sua existência será vista como uma obra só, onde você sempre foi você, onde você sempre foi alguém desde o colo de sua mãe.

Talvez deste modo você entenderá que você viveu como se não precisasse mais de um minuto a mais sequer para definir quem você é. Que a sua vida não é curta ou longa, mas rasa ou profunda. Que vale mais um minuto sentindo o todo da vida do que achando que a vida vai sendo descoberta aos poucos.

Assim, toda a banalidade (que nada mais é que ocupar-se em caçar alguma coisa interessante para sua vida nas galerias do supérfluo) não ocupará muito espaço na sua rotina, pois as maiores banalidades são conjugadas por causa das intermitências que colocamos na vida. Quem nunca desistiu da vida para esperar o outro ano começar?

"Você vive HOJE uma vida que gostaria de viver por toda a eternidade?"
Friedrich Nietzsche

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