NÃO HÁ LIMITES PARA DEUS


[Deus é soberano no Homem e com o Homem,
este, com sua própria e tênue liberdade]
E não há criatura alguma encoberta diante dele; antes todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos daquele com quem temos de tratar – Hebreus
É lindo o romance onde, pra Deus, só resta o amor franzino. Um amor que deixa Deus refém do Homem. Li num texto de Ed René Kivitz, uma citação do padre francês François Varillon: “Deus não é um “poder que ama”, mas sim “um amor todo-poderoso“".
É inegável a verdade incutida nesta frase. Através de Jesus, a encarnação do Amor entre os homens, Deus revela a incrível faceta de sua maestria, um amor influente, abrangente e envolvente. Um amor poderoso, que não implanta uma soberania ditadora, onde Ele escreve o que bem entende, inclusive as projeções de atrocidades, bem como todas as minúcias que se tornam existentes a partir de caprichos divinos.

Apesar desta verve amorosa, não existe razão para defendemos uma concessão para que ele deixe de ser Soberano ou limitado, afinal, “todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos daquele com quem temos de tratar”. A expressão “Deus é Soberano” só entra em choque com a interpretação da Soberania tirânica que alguns arquitetaram a respeito de Deus a ponto de afirmarmos, como uma outra resposta: “o que resta de Deus é o Amor em sua ausência de poder”.

Este pensamento se dá porque olhamos a metáfora de um “Deus enfraquecido” e elegemos como uma realidade diminutiva a fim de termos um Deus cognitivo. O “Amor todo-poderoso” realiza em nós tudo o que deve ser feito e que diz respeito a via do amor no seu relacionamento com cada ser humano. Isso não é limite, é a sua vontade. Deus costura muito bem o caminho do Homem, com suas escolhas instintivas e com sua Soberania de Amor Influente, pois ele é a matriz da existência. A grande máquina soberana e que constrange todas as coisas é o amor, em seus megatons de poder.

Acredito que Deus não abre mão de sua Soberania. Deus não é refém de ninguém e nem de nada. O ser humano foi quem virou refém de seu amor, pois fomos reconciliados através Dele. “Deus deseja que todos os homens sejam salvos”, não é um limite para Deus, é um limite para o Homem. Ser refém é não poder fazer nada, em sua clausura. Deus quer fazer e faz e só não faz aquilo que ele outorgou ao homem escolher e assim, ele espera do Homem que todos sejam salvos. Agora, o que Ele quer fazer e que cabe apenas a Ele, Ele faz.

Não podemos concluir que existe um limite para Deus, quando, na verdade, ele “decretou” que o Homem deveria segui-lo por sua vontade e inexoravelmente, constrangido pelo Amor que vem Dele. Ora, um “Deus limitado” é um esforço, com jogos de palavras, para se contrapor ao fatalismo utilizando-se da mesma ótica. Esta foi a vontade de Deus, do Homem segui-lo por sua conta e cuidar de seu Jardim. Ele, esperar que nós cuidemos bem do jardim e dos nossos semelhantes, em hipótese alguma, isso é achar que Deus se tornou refém dos jardineiros por causa do amor ou refém do amor por causa dos jardineiros.

Se Deus fosse refém por causa do Amor, Deus seria um clássico romântico que procura sua outra metade e que não dorme em paz enquanto não a encontra. Refém é o Homem, que já não tem outra escolha a seguir, senão o Amor. O Amor é um Caminho onde o Homem trilha com seus próprios passos, porém inspirado neste “Amor Todo-Poderoso”. Até para darmos uma pulsão de amor, precisamos de Deus. Quer mais Soberania do que esta? Acho que o trauma do determinismo ou da soberania feudal foi tão grande, que estão querendo se divorciar do termo.

No fim das contas, tudo nós temos de tratar com Ele, por tudo está nu e patente a ele. Ele é o alfa e o ômega.  Seu amor influencia até a nossa liberdade, nos tornando refém desta influência. E o que Ele mais deseja, é que todos sejam salvos e se rendam neste cativeiro de amor. Seu amor nos constrange. Paremos de sofrer com as versões contadas sobre Deus, desta maneira, nós iremos dar outras versões, estranhamente, amorosas.

2 comentários:

Will disse...

Moisés, meu amigo, você tem acertado na mosca costumeiramente. Bela produção, bom raciocínio.

Abraço!

Moisés Lourenço Gomes disse...

Obrigado, Will.