O Lucas tinha 18 anos, o Tiago tinha 19.
Trabalhei com as vísceras expostas, a fim de trazer o leite aos meus rebentos. Amei com o mesmo amor, a cada um deles, sem privilégios. Num surto de raiva entre eles, o meu Lucas empurrou o meu Tiago do 5º andar. Brigavam porque sempre brigaram, contudo, dessa vez, meu Tiago foi embora para sempre. O Lucas tirou de mim aquilo que também era dele. Ele se arrependeu e mais, teve remorso. O meu Lucas está preso. Iniciou sua maioridade, 18 anos, numa cela e passará décadas nela.
Trabalhei com as vísceras expostas, a fim de trazer o leite aos meus rebentos. Amei com o mesmo amor, a cada um deles, sem privilégios. Num surto de raiva entre eles, o meu Lucas empurrou o meu Tiago do 5º andar. Brigavam porque sempre brigaram, contudo, dessa vez, meu Tiago foi embora para sempre. O Lucas tirou de mim aquilo que também era dele. Ele se arrependeu e mais, teve remorso. O meu Lucas está preso. Iniciou sua maioridade, 18 anos, numa cela e passará décadas nela.
Eu odiei o Lucas e senti a dor brutal da queda de meu Tiago naquele mesmo instante. Senti. Sim.
Não estava em casa, mas senti uma dor maior que um infarto. “Alguma coisa aconteceu”, disse a mim mesmo. Naquele mesmo instante, o Tiago caia do 5º andar. Esganei o Lucas, o desfaleci. Não quis olhar para eles, meu filho morto e meu filho assassino.
Como posso odiar o próprio sangue do meu sangue que verte o meu sangue? O assassínio se instaurou em minha casa. Todos nós morremos e vegetamos em soluços de existências. Minhas mãos trementes já não esganam mais o Lucas. O tempo está trazendo o meu Lucas de volta para mim, mesmo ele preso. O laço que une uma família pode durar para sempre, mesmo com grandes intervalos de distâncias.
A intensidade da perda é a mesma da decepção. Não as aceito, não as admito, mas são intrínsecas a mim. A perda e a decepção são meus cânceres e ainda que sejam cânceres, são meus. Descobri que ser família é conviver numa ambiência polar, com eqüidistâncias que cruzam a vida e a morte, a alegria e a dor, o dia e a noite. Meu Lucas não é um monstro e não apresenta perigo a sociedade. Não aceito seu encarceramento. Sofro porque sei que está sofrendo lá e sinto a sua falta. Ele estaria recuperado se estivesse em seu lar. A penitência dele seria lidar comigo. A minha terapia seria conviver com ele. A nossa cura estaria na convivência.
Amar o assassino de meu filho é minha sina, não tenho escolha. Alguém consegue deixar de amar um filho? O que consegue é mais cruel do que o Lucas, em seu ato cruel. A crueldade, como ato, não perdura tanto quanto o cruel, pois esta crueldade se desmancha e cicatriza em um lamento sem fim. A felicidade que abunda nos felizes como uma sucessão de prazeres é orgia da alma. Eu não sei o que é isso. Tenho forças para amar meu Lucas tendo o pesar como sol que aquece as minhas lágrimas e que me faz recuperar o meu filho de novo.
A saudade é o “revés do parto”, o amor é um “grande laço”.
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