A tragédia das conclusões


A humana tragédia,
a esquisita teodicieia

Após grandes tragédias, explodem as conclusões a respeito de Deus em face da tragédia. Deus, como “Deus de Abraão, Isaque e Jacó” e “Deus em Jesus", deixou de ser o Deus que está para além de nossa compreensão e para além de qualquer canto existencial no multiverso, para ser um Deus que obedece a um paradigma de poder e soberania ou um paradigma de amor e bondade. Para alguns sábios da antiguidade, esses paradigmas, onde Deus entrava e onde o Homem saia e vice-versa, não inaugurava uma corrente teológica, apenas se evidenciava a pequeneza humana no que tange a compreensão daquele que era conhecido pela fé.

Hoje, a ação humana e a Soberania Divina tiram a paz de muitos e então começa a caça a versículos para compor o Deus bíblico, não obstante, de todos os lados, sobram versículos para tal embasamento e vence aquele que passa a imagem mais contundente de Deus. Uma famosa corrente teológica diz que Deus provocou a tragédia no Japão, assim como provocou o dilúvio nos tempo de Noé, com intenção de divulgação do evangelho. Reconhecemos a loucura desta informação totalmente desprovida do espírito do evangelho, porém a grande questão é que não se pode se opor a isso, se utilizando do mesmo método.
O método que estão se utilizando é o que chamo de “Deus em paradigmas”. Esta necessidade de criar um perfil de um Deus em detrimento do outro, gera apenas a polaridade. Com isso, fica clara a criação de deuses bíblicos que se nutrem de um desencadeamento de concessões e limites, onde se restringe o que, de fato, Deus pode fazer. Desta forma, assim como um radical coloca uma espada na mão de Jesus, o seu oponente coloca uma espada cega.

Gosto do que Isaias diz (sempre ele aparece em meus textos). Isaias, há milhares de anos pensou o que muita gente não consegue pensar. Não é preciso dividir Deus em categorias. Como podemos discutir os rabiscos do Arquiteto, sendo que o mesmo não escreveu um esboço sequer? Isaias, em sua revelação e mergulhado no que cria, resumiu em poucas palavras: “É ele o que está sentado sobre a redondeza da terra, cujos habitantes são como gafanhotos; é ele o que estende os céus como uma cortina, e os desenrola como uma tenda para neles habitar.” Is 40:22
Deus decidiu abrir as cortinas do tempo e da existência para habitar entre nós e agir através de nós. O que está acima das cortinas não se altera e nem quem está debaixo delas e dentro de nós. O Deus, que nos vê como gafanhotos é o mesmo Deus que habita em cada um de nós. Ou seja, a discussão já não é se ele manipula ou se isenta, não deveria ser esta a discussão, melhor dizendo. Não deveríamos colocar no ring, o Deus Poderoso x Deus Amoroso, visto que isso não passa de uma discussão tendo como ponto de vista, aquilo que se pode vê a respeito daquilo que não se pode vê e tendo como pressuposto a adequação conforme a satisfação do observador. Isso gera os paradigmas divinos e que são cruciais como lentes a fim de apresentar uma resposta plausível.

A forma como o Criador decide se relacionar, não tem a ver com sua mudança de caráter e a contenção de poder. O viés é estabelecido segundo a revelação de quem Ele é implicado com a experiência que o Homem vai ganhando através da revelação e que vai chocando e moldando a consciência coletiva do Homem. Tendo dito isso, fica tácita a idéia de que Deus muda a forma de guiar o Homem e isso implica naquilo que chamamos de ausência ou fraqueza de Deus.
Não tenho muito contra os termos “fraqueza” ou “ausência”, visto que essa é a sensação do ponto-de-vista do Homem-com-Deus-dentro-de-si e que então passa a não ver o Deus-que–manda-fogo-do-céu, mas fato é que Deus nunca esteve tão forte e presente hoje, através de seus inusitados e meandros caminhos. A ausência divina é o próprio inferno, posto que em tudo que contenha vida emerge da Vida e sem ela, aí está à morte, e que, diga-se de passagem, é a extinção da existência e da vida.

A sua Presença está nos nossos braços para erguer a enxada que cultiva amor e paz. Sua força impede de que o mal triunfe sobre o bem, em nós e através de nós. Sua força está no amor que vai estancando o mesmo mal de sempre, fazendo reluzir fagulhas de luz nas densas trevas. O Amor se ergue com força. Oro para que todos nós não nos percamos na insistência de fechar ou abrir o zíper das cortinas que dão acesso ao Criador. A tentativa, obviamente, é vã, porém apenas nos rouba o tempo de incitar paz ao invés de semear atritos em nome de um Deus mais Soberano ou mais Amoroso. Todo álibi paradigmático revela um deus bíblico, porém, antropomorficamente, vigente à sua cosmovisão.

Um comentário:

Banda Contemplar disse...

Texto maravilhoso...Exposições perfeitas!
Tamo junto!
PAZ!