Francisco Anysio de Oliveira Paula Filho |
DEUS? QUE DEUS?"Mas e então? Que Deus é este que deixa que morra um menino de 18 anos, à espera de começar seu caminho na vida e deixa vivo e solto o animal que o atropelou, o débil mental que faz de um tunel uma pista de corrida e simplesmente arranca da vida um ser bonito, jovem, ansioso por começar a viver, filho de uma mãe maravilhosa, como colega, como amiga e como pessoa? Para onde Deus estava olhando quando isto aconteceu? Para onde ele olha enquanto negras magérrimas juntam areia a um pouco de água suja e dão para seus filhos na esperança de o salvar?
Não é Ele que tudo sabe e que tudo vê? E como não vê o eterno inferno em que vivem judeus e palestinos por causa de dois palmos de terra? Deus é onipresente? E quando o Bruno matou ou mandou matar a mulher que lhe dera um filho e dele desejava o dinheiro suficiente para a criança sobrevier? Deus é onisciente? Então ele sabia que o Rafael teria que morrer naquele dia, naquela hora e daquele modo. Sendo assim, meus amigos eu deixo à disposição de todos a minha parte de Deus porque se Ele tem e é tantos “onis” e o mundo está como está, eu prefiro ficar sozinho."Chico Anysio
A vida e a morte são dois lados da mesma moeda. São irmãs siamesas que se unem de modo sucessivo; primeiro a vida, depois a morte. Não haveria devoção a Deus se o ser humano fosse conservado e fadado a morrer apenas na velhice – um mero infarto. Por que haveria descrença justificada na morte prematura de um ser vivo? Fato é que por crermos que Deus é uma espécie de garçom galáctico, ele haveria de nos poupar das fatalidades cruéis e nos abastar conforme o desejo de cada um.
Esse Deus
não existe e se existisse, ele seria o responsável pela morte do Rafael, filho
da Cissa Guimarães. O Deus que você deixou de crer e o Deus que a grande massa
crê são uma, a extremidade da outra, e está abaixo da linha do horizonte
daquilo que de fato é e existe. A percepção de que há um Deus não é apenas
fator de necessidade, é uma identidade do Homem e o que apenas vai se esvaindo
pela história no rolo compressor da evolução do pensamento, são as teorias a
cerca dele.
Hoje, você
desiste e abandona suas suspeições de que Ele existe, porém, saiba: ninguém crê
ou descrê nele por desistência ou esforço intelectual. Se suas agruras lhe
fizeram perder a fé, permita-me dizer que você perdeu apenas o “apetite” de
sustentar suas convicções de crenças. A fé não é convicção de nada que não seja
um eco daquilo que ressoa dentro do coração humano.
Um grande
e bom coração que ressoa amor, não pode confessar incredulidade. Um grande e
bom coração é encontrado por Deus mesmo em face de decepção, ignorância e
ceticismo. Ainda que a boca humana confesse algo, nem sempre o que dizemos, de
fato, é o que cremos. Há quem diz, publicamente, “sim” sobre Deus, porém o
coração diz “não”. Há quem diz, publicamente, “não” sobre Deus, porém o coração
diz “sim”.
Outra
coisa, Deus não tem respostas. Deus é a própria resposta. A resposta dele é que
ele reconciliou o Homem ao seu seio e debaixo de sua dextra, tudo nasce, tudo
cresce, tudo morre e em morrendo, tudo volta a ter vida nele e para sempre. Somos
e sempre seremos filhos dele com toda a nossa revolta contra Ele e com todo o
nosso entulho de informação que especulamos a respeito dele.
Hoje, você
proclama independência intelectual a respeito de Deus, porém somente uma coisa
validaria e isso não tem a ver com suas convicções, tem a ver com quem você é,
como você viveu e como você se relaciona dentro deste elo de vida humana.
Bem-aventurado
é aquele que consegue reverberar em convicção aquilo que ele não creu com
palavras, mas com jeito de ser e viver.
Nós somos
tão pueris que não cabe a nós saber quem somos através do que cremos cabe a
Deus saber e julgar o que de fato cremos pelo o que de fato somos. O amor de
Deus não tapa buraco existencial e não impede de que tragédias aconteçam. O
amor de Deus é o chão que acolhe todo o suor e sangue e faz brotar esperança,
amparo e unidade com o seu próprio semelhante.
Na
angústia, Deus é “Deus em você e em mim” ao que sofre, ao que geme. Choremos e
cuidemos uns dos outros. Chico Anysio, esta carta é expressão de minha
admiração a você e consciência de que quem sabe melhor de nós, é Deus.
Abraços
fraternos,
Moisés
Lourenço
____________________________________________________________________
Ainda sobre a carta (acima) publicada aqui e no site do Caio Fábio - em "A Nueza da Alma".
01 - Sobre a CARTA ABERTA A CHICO ANYSIO - O texto pipocou na internet e gostaria de expressar o seguinte:
02 – Deus está para além de nós. Somos ínfimos seres querendo dar pitaco num ser que abarca qualquer forma de criação, em seu peito;
03 – Ele se revelou na história e esta revelação é que nos enche de pulsão e fé para crer sem vê e crer sem saber que crê;
04 – Chamo de “pitaco”, até a pulsão mais latente e apaixonante daquela alma que está em Cristo;
05 – Nós - e toda nossa espiritualidade - sabemos e provamos pouco daquele para qual nossa alma aponta e inclina;
06 – E isso é suficiente para inspirar cada passo, cada momento;
07 – O texto não considera a questão de o Chico estar redondamente certo ou errado por crer ou por passar a não crer em Deus;
08 – O texto considera que o Chico, crendo ou desistindo de crer, Deus é quem sabe se ele crê ou não;
09 – Não que eu ache inútil em discutir a infantilidade ou agrura do Chico. Eu simplesmente não quis discutir;
10 – Há quem aborde melhor do que eu sobre isso (por conhecer ele) ou há quem tenha mais disposição;
11 – Há também aquele que acha que a solução é riscar o nome dele do “Grande Livro”...
12 – Há também aquele que acha lindo ele dizer que está magoado com Deus...
13 – Enfim, pitaco não falta e meu pitaco é: creio que há um Deus e que elege os seus, a saber, aqueles que se assemelham com o Ele.
14 – Esse deve ser o nosso crivo. Ignorar um pouco o que a pessoa fala em detrimento de quem ela é;
15 – Se não conhecemos bem, é melhor ficarmos quietos. Há quem diz, publicamente, “sim” sobre Deus, porém o coração diz “não”.
16 - Há quem diz, publicamente, “não” sobre Deus, porém o coração diz “sim”.
17 -A carta é uma expressão textual com a finalidade de levar o leitor a refletir de que vale a pena "ler o aeon" sob uma nova perspectiva.
18 - É certo que falamos muito de quem somos e assim julgamos uns aos outros, mas mesmo assim, o que falamos é a epiderme daquilo que realmente está latente em nós. Deus sabe quem somos melhor do que nós.
Nenhum comentário:
Postar um comentário