Conversa entre amigos sobre sistema




Nesta semana, eu e um amigo, decidimos dar um rolé pelas ruas de São Paulo, a pé, olhando o movimento e inseridos na correria noturna da metrópole que não pára um minuto sequer. Andando, reparando o vai e vem, rindo e atropelando um ao outro para falar sobre tudo no menor espaço de tempo possível, fomos parar num assunto que eu quero estender a vocês e que considero o único assunto não-fútil a vocês. :-)

Nascemos botando a boca no trombone. “Irritados” com o médico que nos tirou do aquário materno sem a nossa permissão. De imediato, ganhamos um nome que nos identificará irrevogavelmente.
Assim começa a vida. Irritação e inserção.

Aprendemos sobre convivência e principalmente, o modo vigente de se comunicar. Tanto na escola, como nos guetos. De repente alguém nos diz: “Então, garoto, você não nasceu por acaso, Alguém tem um propósito a cada um de nós e precisamos ter este “Alguém”, como caminho. É questão de vida ou morte”.
Assim continua a vida. Adaptação e sujeição.

Vivemos um enorme choque de histórias de pessoas se colidindo o tempo inteiro. O tempo todo, as pessoas cruzam olhares e mal sabem que olharam para um poço sem fim de uma história humana. Mas o que importa é o seu seio relacional.
Assim prossegue a vida. Irrelevância e confinamento.

Quem leu até aqui deve estar se perguntando: “Afinal, somos livres mesmo? Somos seres da mesma espécie?” Acredite, isso não é o lado ruim da história, pelo menos no meu ponto de vista. Afinal, nós somos auto-destrutíveis e inter-destrutíveis e por conta disso, presos em nós mesmos. Questão de sobrevivência e adaptação. A droga de tudo não é a disposição natural da sociedade em incutir e enxotar em nossas mentes, o seu modo de viver. A droga é fazer isso de modo viral, o que eu chamo de “Vida Epidêmica” (V.E.). Tudo na vida é ensinado e insinuado em vias de V.E., o que, em outras palavras, significa a vida em laboratório sendo oferecida com sedução, estratégia e ameaça, de modo epidêmico; ninguém diz não.

Já é impossível ser 100% independente e livre e como se não bastasse, estamos legalizando ainda mais o malcaristimo institucional que está patrocinando a mídia, a religião, a política e a cultura em nome da sedução e contemplação do alimento artificial e viciante como vital ao ser humano. Reparem, todos esses âmbitos se oferecem como soberanos e manipuladores.

A mídia – Não é novidade de que ela é a formadora  ditadora do pensamento público. Quem não cai na graça dela, vira inimigo dela e inimigo da massa.
A religião – Ainda que tenha um gato-pingado de boas comunidades, o que assola é isso (leia os seis pequenos parágrafos e se detenha no quarto). Somente um alienado que vive dentro de sua comunidade legal, tem a coragem de achar que “não está tão ruim assim”. Esses se enclausuram, vivem abastados enquanto o mundo religioso sofre um dilúvio de engano e devastação generalizada.
A política – Brasília? É o arquétipo do Homem. Nada a acrescentar do nosso espelho, ao mesmo tempo em que é o nosso exemplo.
A cultura – Enquanto alguns discutem e depreciam a expressão cultural do inculto em face da nobre cultura, questiono quando, por exemplo, o futebol - esporte e entretenimento - se torna “pão e circo” ao povo, para empurrar consumo, iludi-los de realidades inviáveis e para oferecer oportunidade para que alguns roubem por debaixo dos panos enquanto todos dançam de verde e amarelo. Isso independe da qualidade de produção cultural. Tem a ver com o que se faz dela para paralisar a massa a fim de que se façam os piores acordos por trás.

O sistema que amarra o Homem ao céu, ao consumo, ao entretenimento, ao ego, ao mundo corporativo e a todos os demais segmentos da sociedade, transforma o diabo em anjo não-caído. É obviedade do sistema, engrenar peças para o funcionamento e utilização de quem a constrói. A contracultura do sistema é o único caminho e não digo que tenhamos de derrubar os grandes portões e cancelas, afinal, quando se derruba um grande portão, se constrói outros menores.  Concordo com o PC Siqueira quando diz em seu videocast algo assim: “entre não fazer nada e fazer muito, faça o pouco”. Não é preciso erguer a espada da liberdade, basta tocar no ombro do que está ao lado de modo diferente. Já é o bastante para gerar o efeito borboleta.

É necessário que rejeitemos a V.E. porque ela e tão viciante quanto crack e tão prática quanto miojo. Não existe céu que seja céu quando se é vendido e oferecido àqueles que fazem adesões a certas ideologias. Essa é a maior mentira da história. A vida como fruto de um bom pensamento, é aquela que pensa e mais que isso, que se torna alguém comprometido com o seu meio social sem barganha com o céu, com a terra, com a ideologia e com a tradição. Cristãos, não se engane.  Jesus não tem uma estratégia de marketing para oferecer uma vida melhor aos que aderem a ele. Não existe um plano sistemático de salvação e felicidade. Não há um consulado que emite visto ao Paraíso.

O calcanhar de Aquiles da instituição que se erige como consulado do Paraíso é a arrogância de agenciadora. Tirem este direito e vê o que sobra. Quem nega a V.E. coopera com a contenção da máquina que produz seres humanos em séries. O lobby entra em crise e a publicidade viral do controle da raça humana se esvai. Estamos pertos de um grande movimento político e que pode ser, - veja bem, “pode ser” – bom para o Brasil. A mídia está longe de ser imparcial e coerente. Qualquer enfrentamento contra, ela grita “censura” (e o povo acredita), então é preciso que eu e você tenhamos a mente ventilada e livre do medo de andar com as próprias pernas.

Custa caro anarquizar a consciência, estabelecer elos apenas por afinidades e assumir os ônus da opinião própria”, porém essas atitudes permitem relacionamentos sadios, comunidades freqüentáveis, famílias acolhedoras e amantes e permitem que todos sejam um pouco mais aquilo que elas são, nuas, sem receio de conviver e dispostos a se abrirem para pedir ajuda. A vida epidêmica padroniza a atitude de julgar o outro mesmo que se pratique coisas piores, o desdenhar daquele que rasga o saco de lixo para encontrar comida, a canalhice para arrancar dinheiro do povo que sua para ganhar R$ 510,00 por mês, a vulgaridade para falar e agir de forma sórdida e torpe com o outro, a infâmia para apunhalar e enganar, a canalhice para tirar proveito e para usufruir enquanto é conveniente, a canalhice para fazer vista grossa quando se devia intervir, defender e denunciar.

A vida epidêmica é venosa, cruel e mortal. Nos torna subservientes, algozes e vítimas.
Ninguém nasceu para ser um nativo dentro de cadeia que tritura o livre pensamento, o direito de laborar suas opiniões e prismas e o direito de errar e acertar pelo fato de andar com as próprias pernas. É certo que, na verdade, todos nós temos uma muleta para nos apoiar, aprender e inspirar e isso é natural, porém não confunda isso com a máquina que uniformiza a todos num campo de concentração do pensamento. Os covardes e mentecaptos serão felizes capachos e eternos dependentes de emo-cionalismo barato, ilusão efêmera e de ambiência de dissimulados e “come-quietos” que frequentemente dão facadas pelas costas com sorriso de Jesus de Nazaré e rosto contrito de Madre Tereza.

Quem não anarquiza o seu pensamento em face do opróbrio sistema, rasga a carta de alforria que nos é oferecido todas as manhãs. Que ao olhar para o nosso passado e presente - quer nos arrependamos de tudo ou de nada – possamos afirmar: “minha vida, minha autoria”.

Nenhum comentário: