“É possível ser feliz?”



“Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.”
Gonçalves Dias, poeta português


Alguém me perguntou e mais: “é possível ser feliz definitivamente?” Duas coisas são fáceis: não ser feliz ou achar que é feliz.

A felicidade não é uma conquista, por isso não se pode achá-la e muito menos eternizá-la. O tempo, em seus ciclos de momentos não permite essa perenidade de estado. Ninguém pode se definir feliz porque casou ou conseguiu um bom emprego. Ninguém pode se achar eternamente feliz porque tem bastantes amigos ou porque é querido no seu seio de relacionamentos. Pode-se dizer que “está feliz”, “que tudo está dando certo”, desde que se tenha consciência de que se trata de um estado relativo ao instante seguinte da vida, afinal, o barco pode ir a pique.
 

Vida feliz é uma coletânea de eternos momentos onde em cada momento se prova o céu e o inferno, daí a eternidade e singularidade de cada momento. Se a vida é uma sucessão de momentos, essa história de perseguir e traçar todo o roteiro a ser desenrolado na vida é a maior falácia. Difícil é a gente projetar todos os nossos maiores desejos e amores em eternos momentos. Queremos logo amarrar aquilo que é bom, à vida toda. Não é que deveríamos ser levianos com a vida e nos tornarmos em seres que vivem a cada momento de modo irresponsável.

Na verdade, quando se faz tudo o que tem de ser feito no momento, no instante, com a consciência de que aquele momento, na verdade, é uma história com começo, meio e fim, possivelmente não será comprometido o instante posterior com o fracasso, vicio e veneno. E quem pensa que a vida feliz deve ser conquistada, geralmente percorre a via do "vale tudo" sem se preocupar com a riqueza e significado de cada minucioso momento. Geralmente desrespeitamos e atropelamos as singelas sementes que geram a vida por achar que ela não é essencial para construção da felicidade. Todavia, se prezarmos pela máxima potência da vida em cada momento, toda a dor do instante não carregará a frustração de “vida inteira perdida”. Toda a alegria do momento não dará a falsa ilusão de que a vida é um mar de rosas.

Se nós deixássemos de nos iludir com a busca frenética para ser alguém, perceberíamos que sempre fomos alguém. Todas as perdas e frustrações estariam livres da infantilidade e imaturidade – nos ergueríamos mais rápidos. Todos os momentos já vividos teriam um valor único inclusive aquele que negativamente chamamos de “rotina”. A rotina só existe para quem despreza o momento em detrimento de uma vida feliz na Terra do Nunca. Os melhores momentos da vida deveriam ser aqueles que pintamos com cores brancas e pretas e rotulamos de “momento comum”. Quem não se satisfaz com a vida é porque desvaloriza a sua e premia a vida dos outros como as melhores e quando se fazem isso, estão olhando a vida dos outros como se a vida fosse aquilo, um ser estaticamente feliz e privilegiado. Engano dos mais infantis.

Quem quer ser feliz definitivamente deve cuidar do seu instante-após-instante de modo especial e singular. Quem quer uma fórmula pronta para garantir sucesso em todos os instantes de modo simultâneo, parafraseio o meu primeiro parágrafo: “Duas coisas lhe esperam: não ser feliz ou achar que é feliz.” Vida feliz é a convivência entre alegria, tristeza e maturidade sendo individualmente experienciada em cada momento da vida, então não há conquista, há assimilação, encaixes, ajustes, maturidade e encaramentos que nos fazem mais fortes a ponto de nossos olhares começarem a reconhecer vida agradável e boa onde ninguém vê.


“Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.”

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