O amor é sofredor - Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta

São Paulo afirmou: “De mui boa vontade darei o que é meu, e me darei a mim mesmo pelas vossas almas, ainda que, amando-vos mais, seja menos amado por vós.”
Luiz Vaz de Camões poetizou: Amar é... “É querer estar preso por vontade, É ter com quem nos mata: lealdade”
Tom Zé Cantou: “O amor é egoísta/O amor, ele só cuida/Só cuida de si/Então quer dizer que o amor é mesmo sem caráter?/Tem que ser assim/E sem caráter, de quem é que ele cuida?/Só cuida de si.”

Todos provam, vivenciam e emitem suas impressões acerca dele. Algo tão intrincado com a dor, torna-se a essência da essência humana – é o núcleo que reside no íntimo daquilo que é vital. É o caos que esparge lavas quentes e que rue castelo de sentimentos, e que pervade o metabolismo e que por fim, encarcera o Homem. Quem poderá dizer que é livre, uma vez sabendo que o amor nos liberta do nada para algo ou alguém?
 

Somos organismos inflamáveis em que o amor é “ferida que dói e não sente” e não sentir não é não doer como poetizou Camões, não sentir é ferir-se como elemento indispensável a vida, onde não se sente nada além de uma necessidade de amar e continuar amando e provando da dimensão dualista do amar e sofrer. O que se sente é uma dor necessária. Uma dor irrecuperável que só quem ama pode sentir. Não sentir é deixar que se doa para se amar. Não sentir é a invalidez da propriedade da dor que nos remete a uma percepção de dor indispensável e inerente. É a dor da falta de reciprocidade de amor, logo, é apenas amar sem retorno, sem se sentir amado, e não uma dor existencial e que se coloca antagônica ao sentimento.

O amor é assim, é egoísta, mas o amante e o amado não devem ser. O amor é egoísta porque ele atrai e não se desapega nem na morte e quando, enfim, chega o momento de lutuosidade, nós é que temos a missão impossível de controlar o sentimento.
O amor e sua indomabilidade é fruto de nossa escolha, decisão, porém depois de nossas apostas, ele é quem toma as rédias e que por conseqüência, não dispensa a nossa consciência para não se desenfrear, para não se entregar demais.

Feliz é aquele que ama, porém se conscientiza para os dias de desamor. Feliz é aquele que não se prepara para amar (pois isso nos torna cínicos no amor), mas ama intensamente com os pés no chão, pois se porventura, o amado se for, talvez haja força para lidar com suas erupções que se deságuam sem margens, sem berços, sem braços. Que ninguém viva sem amor e sem amar, pois amor precede a existência e a vida. Que ninguém desista de amar, pois a estes só se configura a inexistência do ser e qualquer espírito de inexistência que se configure em pessoas que cuja potencialidade de existência explode nos poros, é melhor que a vida não tivesse irrompido.
 

Ninguém que ama é vencedor. Somos apenas amantes e amados. Quem quiser vencer no amor é melhor que não ame, pois o amor não é tema de estratégia e posse. Amor é chão indomável e neste chão, apenas devemos cuidar e ter cuidado. Escolha e depois se torne território colonizado dele. Termino com a citação de São Paulo e oro para que todos discirnam o amor, para conscientização do amor, para cuidar do amor, para não evitar o amor, para não temê-lo, para não ficar a mercê dele e principalmente, para que todos se conscientizem de que a vida é um “simples paradoxo”, um elo de auto-polaridades extremas, um caos, um vulcão que ora dorme, ora explode – mas com todas essas complexidades, a vida é assim e só é vista como complexa porque foi assim que quisemos percebê-la.

São Paulo afirmou:
“De mui boa vontade darei o que é meu, e me darei a mim mesmo pelas vossas almas, ainda que, amando-vos mais, seja menos amado por vós.”

Um comentário:

Juliano disse...

"A vida é um “simples paradoxo”, um elo de auto-polaridades extremas, um caos, um vulcão que ora dorme, ora explode"

Excelente definição! Usarei isso! rsrs