Fagulhas do Evangelho | Orai sem cessar

‘Fagulhas do Evangelho’ são pequenos insights do chamado “Novo Testamento” que reúne as boas-novas de Jesus e de alguns de seus filhos inspirados.

Como posso orar 24 horas por dia? Existe algum treinamento para isso? O dia em que eu conseguir adquirir este hábito, Deus me ouvirá e, por conseguinte, sentirei mais a presença dele?

“Não” para as três retóricas questões. Uma coisa é certa: orar sem cessar é a respiração do espírito diante de Deus. Sem a respiração, ou seja, sem a oração, trata-se de uma questão óbvia de óbito. O nosso dilema reside na conceituação da oração constante. Orar sem cessar não é pedir licença espiritual na empresa para viver uma vida trancada na igreja. Orar sem cessar não é freqüentar, de 5 e 5 minutos, o banheiro da empresa para orar em secreto.

Definitivamente, orar é muito mais do que um ato, um ritual, uma meditação. Oração é um estado de vida, espírito e consciência de que se já está nos átrios de Deus a todo o momento e toda a presença de Deus está dentro de si e que cada olhar humano cheio de amor de Deus para vida como reação de cotidianidade é a oração constante em vias de comportamento, atitude e reação. Ninguém precisa mandar ou lembrar que você precisa respirar, logo, a oração sem cessar, não deve ser policiada do tipo “putz, estou digitando esta planilha ao meu chefe, mas preciso ficar pensando em Deus ou em algum de seus feitos, pois ele mandou eu orar sem cessar”. Isso é apenas um ato de agendamento espiritual, que nos leva a ficar bitolados e tensos quando nos esquecemos do calendário e agendamento de oração.
 

A oração constante inclui o momento devocional em que geralmente fechamos nossos olhos e dobramos nossos joelhos, porém, essas indispensáveis orações devocionais apenas fazem parte como um momento, um período, um ato de “entrar no quarto, trancar a porta” (Mateus 6:6) e em se tratando de um momento, obviamente que a oração constante não se resume nisso. Quem ora sem cessar vive como Jesus viveu. A própria vida do mestre era uma oração constante, pois sua vida integral, ora bebendo, ora comendo, era uma comunicação ambulante com o Pai. Seu diálogo com o Pai em oração não se limitava quando ele ia “orar ao Pai” num lugar longe da multidão. Um simples sorrir, caminhar, descansar, enxugar de lágrimas, conversar com seus amigos mais chegados, dividir um pão, tudo isso era uma fervente oração constante, um diálogo com o eterno, uma manifestação do eterno nele sendo espargida a cada nano-momento da vida e em seu curso natural e corriqueiro.

Observando esse cotidiano de Cristo, imagine: quanto tempo você desvalorizou e banalizou? 0uanto tempo você achou que não estava em sintonia divina somente porque lhe faltou uma consciência de que a comunicação entre Deus e o Homem extravasa a oração devocional e acontece num momento em que você decidiu achar que aquele momento não tinha nada a ver?

Uma doença generalizada em nosso meio é a de pensar mais em ato do que estado. Achamos que Deus só nos escuta quando estamos de joelho. Achamos que Deus só nos perdoa, quando confessamos nossos pecados aos outros conforme “Tiago 5” . Achamos que pecado é apenas uma questão de abstinência conforme “1 Tessalonicenses”. E com os nossos achismos vamos criando um método, uma ata para todos os atos: atos de orar e como orar, atos de perdão e como ser perdoado, atos de não pecar e como não pecar.

E assim surge a nossa teologia: “bom, para eu resistir o pecado, vou precisar orar todos os momentos da minha vida e se eu não resistir, vou ter de me arrepender (que arrependimento involuntário, não achas?) para não ir pro inferno”. A salvação que acontecia pela Graça, vira esse esquema. Essa teologia do medo de inferno e perseverança da sã-rotina!

Precisamos admitir que pecado é um estado não apenas um ato. Precisamos admitir que oração é um estado e não apenas um ato. Precisamos admitir que arrependimento é um estado e não apenas um ato. Ainda que eu desça da vigília no monte do Everest (ato), minha oração continuará no meu caminhar, no meu ser, no meu dia-a-dia (estado). Ainda que eu me não cometa o pecado tal (ato), ainda sim continuarei pecador (estado). Que possamos entender que Deus não secciona nossos comportamentos e atitudes seja ele qual for: pecado, perdão, arrependimento, amor, bondade, justiça, oração.

Deus não estabelece um relacionamento libertino, descompromissado e irresponsável com o Homem, muito pelo contrário, Deus estabelece um caminho que não começa de nossas ações e atos para o nosso próprio bem, pois somos peritos em transformar nossos “atos cristãos” em moeda no e trono no reino de Deus. Deus estabelece um caminho que começa em Jesus e vai até o nosso estado interior e que reflete exteriormente em nossos atos. Isso, verdadeiramente é libertador. Este é o verdadeiro caminho da santidade.

Alguém no passado disse: “Pregue o evangelho, e se preciso, use palavras”. Nem preciso desenhar para você entender, certo?rs Nem preciso dizer que, no caso, o “falar” era um mero ato e o “pregar”, era um estado de vida, onde a própria vida anunciava, integralmente e naturalmente, o Evangelho, certo?rs

Podemos conversar mais sobre isso no próximo ‘Fagulha do Evangelho’.

Abraços!

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