Carta aberta: “Pare de tomar a pílula”


Ao meu amigo,

É uma responsabilidade enorme compartilhar sobre algumas coisas que não estão fazendo bem para nós. De prima, digo: “pare de tomar a pílula”! Você tem noção de quem você se tornou a partir de quando você passou a tomar essas benditas pílulas? Olha quem você é hoje! Tu não és mais o mesmo, sua família não te reconhece mais. Teus amigos se distanciaram ou andam falando mal de você por aí. Quão diferente você está. As pílulas afetaram e cauterizaram seu humor, sua inteligência, sua criatividade, sua forma de relacionamento, seus prismas e até, sua fé. As pílulas estão engessando sua liberdade e suas expressões íntimas de sentimentos. Você não sorri mais, a não ser, que precise mostrar que tudo está bem. Então você solta aquele sorriso amarelo, patético e mecânico. Sua esposa é amada frigidamente. Você cita o poeta apaixonado pra ela, na frente de todo mundo, porém, a expressão de amor pela sua esposa contém-se apenas nesse momento, puramente ilusório. Em casa, você só a enxerga como mais um utensílio doméstico.


Seu coração não arde de amor dentro de casa, só arde num púlpito ou num momento com um determinado grupo, seja cantando, tocando ou falando. Sua casa não é um santuário de amor e recanto de aconchego. Sua casa é antro da rotina, do conformismo e do marasmo. Sua casa não é um seio, sua casa é apenas um canto de isolamento e de frieza. Essa pílula é mortal! Ela torna-te o agente de destruição de sua própria ambiência social. Tu és aceito irrelevantemente. Tu não cheiras e nem fedes. Tu continuas sendo amado e querido, porém nada acontece para vibrar a intensidade deste amor. Amor pra você, confina-se em poesia, música e filme, ou, amor pra você, é apenas saber conviver “suportando uns aos outros”, ou seja, conviver é engolir o irmão! Tu conseguiste transformar o sagrado do imaterial em laico material, a afloração do amor em técnicas práticas para amar, dando origem ao interesse, assentimento, convencimento, monopólio, arrogância e intolerância. Seu entendimento, postura e convicção, não vêm do coração ou de um fruto de relacionamento, vem de manual, tradição e de uma idiossincrasia totalmente erigida por conceitos insustentáveis e até mesmo, estúpidas.

Tu pretendes caminhar assim o resto de sua vida? Deixando rastros infelizes por ela? Jogue essas pílulas fora enquanto a tempo! Se já as engoliu, provoque um vômito! Essa pílula não é remédio, é veneno. Ninguém precisa dessas pílulas para se viver, pois ela existe apenas para repassar a enfermidade da alma de uma pessoa para outra pessoa. Ela reúne a essência escrotal que contaminaram ou vitimaram muitas pessoas e ainda contaminarão ou vitimarão muito mais. Essas pílulas incorporam o mal de cada pessoa que elas corroem no percurso da vida. Ela cresce e se torna forte. “Por que elas existem?” você pode me perguntar. Elas são os resultados de nossa concupiscência. Ela é “manipulação farmacêutica” da potencialização daquilo que geramos como fruto em nosso meio pra se viver, se relacionar e principalmente, se destacar ou sobressair. Ela surge nos laboratórios de nossa consciência que combina o nosso interesse de prevalência com a rigidez e a implantação de nossa verdade-exclusiva.

Não se sinta o impávido colosso, meu caro! Tu és carniça numa cadeia alimentar! Nessa vida, temos mais a aprender do que ensinar. Saia deste posto de altivez. Destrone-se. Deixe de ser consumidor desta maldita pílula. A cápsula é atraente, mas trás em si, a combinação da indiferença. Onde você quer chegar? Achas que vai parar onde desse jeito? Tu achas que a pílula lhe faz colher frutos? Você sente-se bem as ingerindo? “Ledíssimo” engano! Isto é sofisma teu! Tu apenas espalhas o pólen tóxico, meu caro. Faça uma desintoxicação e alimente-se apenas de coisas naturais, simples e saudável. Seja o menor, por desapego e não por fingimento. Fingir-se pequeno, é tolice, até mesmo porque, todos percebem a pseudo-pequenez.
Pare de tomar essa pílula e continuemos a andar juntos. Temos muito que andar, muito a aprender e muito que crescer. Quando largares a pílula, passe a zelar pelos sentimentos alheios, passe a inclinar-se em silêncio ao necessitado, passe a tolerar ao intolerável, passe a igualar-se àquele que outrora você pensava que era maior, passe a raciocinar com flexibilidade e sabedoria (a burrice, pode fazer-nos cometer pecados terríveis), passe a buscar conhecimento e experiência e passe a aprender com a vida que irrompe toda a manhã.

Encerro minhas palavras, dizendo que um dia nós seremos absorvidos pela vida e entraremos nela, eternizados pelo próprio autor, então, sejamos tardios em desbravar, assolar e monopolizar tudo e todos, pois essas coisas não são frutos de vida, e sim, frutos de morte. Tudo é passageiro e o tempo se reduzirá a inexistência juntamente com todo o nosso fruto de presunção e de ignorância. O amor subsistirá a tudo, pois ela é a inerência de Deus em nós. Então: “pare de tomar a pílula”!

Abraços, amigo!

Nenhum comentário: