Salve sua fé e volte para o mundo



Sem meias palavras, sem delongas, sem melindres. Nasça de novo. Chega de ascender sem maturidade, lucidez e humanidade. Chega de cumprir o seu papel que só dá orgulho aos seus interesses. Não perca mais tempo. Perder tempo cumprindo agendas que só faz animar a tua rotina é a tristeza do mundo. O mundo precisa que você chore com ele, bem como, sorria com ele. O mundo é belo. O mundo é plural. O mundo é a vida em combustão. É o milagreiro engrenado pela existência. O mundo era você antes de sua clausura em nome da fé.   

Não existe apenas “aquele mundo”, como uma mente corrupta, o mundo que vos falo é a realidade de gentes, como eu e você, de gente diferente, que não pensa como a gente, mas que, assim como a gente, tem o mesmo valor, a mesma carência e a mesma deficiência. Somos todos iguais, apesar de nossa diferença, entendes? Somos interligados com um cordão umbilical, somos da mesma espécie, não somos alienígenas do outro conforme vai se estabelecendo os tipos de crença e descrença. Salve sua fé do exclusivismo. Ninguém encontrou o caminho certo, todos foram encontrados por um único caminho. Vale caminhar cada um conforme a sua consciência, velando-nos apenas, por abandonar as consciências vis para o bem da comum-unidade. A sua é nociva? Com esta pretensão tão anti-mundana e tão cristã?

Não somos incumbidos de manipular o próximo, nem através de lavagem cerebral, nem através de sedução barata. Nem de maneiras sofisticadas, nem de maneiras incomuns. Não somos incumbidos porque não temos este direito e porque somos iguais àqueles que pretendemos manipular. Se houver manipulação, há-se apenas para tirar proveito. Esta é a única justificativa de querer manipular “gente do mesmo tamanho”: poder. Sua fé não pode sustentar um pretenso nepotismo divino. Repito não existe exclusividade. Somos, apenas, filhos exclusivos de nossos desejos infames e sectários.

Talvez seja o caso de olharmos menos para o além com os olhos para cima. Talvez seja o momento de olharmos para o lado e enxergamos o além dentro de todos nós. “Quem olha o sol, sempre acaba ofuscado” – é o que disse Antífolo de Siracusa, personagem criado por William Shakespeare, por volta de 1594, em sua fantástica peça, “A comédia dos erros”. Qualquer fé que aponte para cima nos tornando alienados do status quo, que posterga o bem em detrimento de agendas pífias, que macula o bem em detrimento de dogmas rígidos, que se torna inimigo do bem em detrimento da insanidade, de preceitos funestos e de compreensão minúscula, deve submeter-se a caducidade e fadada ao ostracismo.

Entenda de uma vez por toda: seus trejeitos e vícios de linguagens religiosos não servem para nada, além de dizer sobre o modo que você acredita.  Geralmente, eles apenas apontam para a sua forma doentia de vivenciar uma experiência religiosa, pois eles se tornam, para muitos, a maior expressão de fé, como se adesivar no carro, “propriedade de Jesus” ou deixar a bíblia aberta no salmo 91 em cima da estante, fosse a melhor forma de mostrar para Deus, a sua confiança, rendição e peregrinação de fé. Não. Isso está errado. Você sabe que não é assim, mas desfazer dessas superstições, para a maioria, é perder o sentido da vida e morrer nos braços da covardia, insegurança e medo, atenuados pelas crenças baratas.

É preciso um ato de coragem. De divórcio. De autoimpeachment. É preciso cortar o cordão umbilical com este cais.  Barco a deriva, velas içadas no oceano não-mapeado da vida normal  e simples, já! “Quem pode impor regras ao vento?” (Laion Monteiro) O vento inspira e é inspirado por todos. Por acaso existe quem não sinta o ar em movimento dançando com cadência e colidindo com nossas mesmices de nosso dia-a-dia? Até quem faça das abissais religiosas, o seu leito, pode sentir a dança lúbrica do vento. Assim é o espírito do Deus do Evangelho.

 Não se esforce para me provar o contrário, pois você perde o teu argumento pelo teu esforço em discordar com complexidade e “embasamento bíblico”, algo tão simples e que sempre esteve no mesmo lugar. Ponderado sempre por um cara chamado Jesus. O qual foi, intelectualmente, sofisticado no mesmo grau de perversão que temos dentro de nós, para sabotar tudo o que não queremos fazer e que sabemos que deveríamos fazer. Na real, a capacidade do Homem de se inovar e se surpreender habita na sua demonstração de emular com o seu deus, seja qual for. No fim, religião serve apenas para conceder o direito de qualquer um ser o seu próprio deus, de erguer a sua própria estátua como nos tempos dos hebreus ou para erguer um homem como o seu deus.

O Nazareno veio humanizar o Homem e o povo quer um deus e uma fé que o arrebate de sua humanidade, para cair nos braços de um deus que o torne uma raça superior, uma raça eleita e perfeita. Que bata continência a rigidez de um pensamento e que sacrifique a própria consciência nos pés de uma ideologia nepotista e unilateral. Enquanto o indivíduo se agrupar como sociedade, haverá a distorção da simplicidade e bondade. Ao mesmo tempo em que não podemos esperar nada de bom de nós, devemos ser devotos de nós mesmos em amor e préstimos. Não seremos regenerados por esta práxis horizontal, mas indivíduos sim. No calor humano da bondade de alguns, um indivíduo se cura e se humaniza. Esta é a equação.  

Um comentário:

AÇÃO CULTURAL disse...

Muito bom!!

Parabéns pelo texto.