O povo é o ópio da religião


Entrei num onibus blumenauense e sentei no "fundão", já me aconchegando para dormir. A viagem me garantiria 1 hora de sono. Mas para a nossa alegria, no banco da frente, duas mulheres começaram a conversar sobre religião. Automaticamente, comecei  prestar atenção na conversa alheia.
 
Uma delas começou a dizer que deixou de frequentar a igreja do Macedo para frequentar a igreja do cowboy, mais conhecido como Valdemiro. Ela argumentava que com o cowboy, a fé funcionava. Lá ela via as coisas acontecerem. E assim, durante 1 hora as duas definiram fé: uma manobra que torna o Todo-Poderoso, o seu garçom e a igreja que facilitar esta conexão com mais rapidez e praticidade, leva o título de casa de Deus. Igreja com milagre = casa de Deus, igreja sem milagre = cemitério de crentes.
 
O nosso país está sendo impregnado com este conceito. Todo o poderoso e hirto falo teológico, erguido durante séculos, foi substituído pela conversa daquelas duas mulheres.  Este novo parâmetro que está formando os novos cristãos, está transformando a todos em devotos supersticiosos, erguendo uma incrível máquina de poder e dinheiro.
 
Eu fiquei pensando... Existe uma solução para isso? A resposta óbvia me veio: "Não". 
 
Infelizmente o povo brasileiro não é estimulado a pensar e nem a afiar o seu senso crítico. A democracia, além de conceder o direito de todo brasileiro escolher, obter, abster, concordar ou discordar de algo ou alguém, acaba autenticado o direito de ser ignorante e o direito de se aproveitar disso. Ou o contrário, elege a ignorância e o direito de se aproveitar disso para determinar escolhas, referências, preferências e etecéteras. Mas isso já é um outro assunto.
 
O fato de acreditar que existe um Deus não é ignorância. Ignorância é a falta de propriedade e conhecimento que torna alguém suscetível, refém ou "presa fácil" de algo ou alguém. É o desconhecimento que gera uma comportamento limitado ou até nocivo.
 
Se alguém acreditar em algo sem se tornar um parasita de charlatões ou sem tornar uma antítese a sobriedade e lucidez ou ainda,  sem perder as estribeiras a ponto de virar refém de uma ideia que o corrói, o ilude, o empobrece, o emburrece e o afasta de quem pensa diferente, não atribuo a este, o título de "ignorante". Não é o fato de acreditar ou não acreditar que nos torna ignorantes, mas a forma e os desdobramentos. A escassez ou excesso de razão pode definir o alto grau de ignorância quando isto que lhe falta ou lhe sobra, servir apenas para o seu parasitismo, seja na burrice ou na arrogância, de onde provém toda a autodestruição.
 
Voltando ao tema da superstição evangélica que está em voga, entendo que ninguém vai conseguir mudar este quadro, pois não há cura instantânea para isso. Um povo que é erguido, delegando a terceiros o privilégio de processar o intelecto, sempre será presa fácil de algo ou de alguém. Até os que são considerados pensantes se pegam no "eu concordo porque sim", que dirá o anencéfalo funcional.
 
Todos que brotam neste mundo querem ser felizes e por isso, a maioria acata a propaganda enganosa. A lei que sempre fala mais alto é aquela que seduz mais e num mundo como o de hoje, vale mais aquilo que vale menos. Quem oferecer a melhor mentira, vai encontrar alguém que não só paga mas que será fiel até o fim ou até aparecer uma mentira melhor, no caso, Valdemiro.
 
O ser humano sempre teve e sempre terá uma quedinha para as percepções e intuições espirituais, mas ele também sempre será o ópio dessas percepções e suspeições, visto que na ambiguidade do seu ser está a capacidade de tirar proveito e de se entregar cegamente a qualquer vento de doutrina, que no Brasil está com força de Katrina.

Um comentário:

fNeias disse...

Moisés tu falou e disse mano, claro que não somos de todo iguais, e "ow grória" por isso né. O povo é complicado e as melhores mentiras arrebanham muito mais fiéis do que a pura e simples verdade do Evangelho. Ajuntamos doutores segundo nossos interesses, minta uma mentira bem mentida, que eu acredite, e te devotarei minha vida, fidelidade, parcialidade, etc... É mais ou menos isso o que vivemos nestes dias últimos, amor que é bom néca de pitiriba também né. E por aí vamos indo, ora vem SENHOR Jesus!