Ela se abrigava entre o meu pescoço e as minhas mãos estendidas que sustentavam as suas curvas. O meu beijo era imortal, posto que dava à ela uma noção etérea e eterna com a qual ela se desaparecia em meus poros a fim de tomar o meu coração com suas próprias mãos para descompassá-lo e aprisioná-lo ao dela. Em seus seios residiam o epicentro de toda ‘rosa radioativa’, com megatons de desejos; e sua barriga era a superfície de meus beijos que ligavam as suas regiões secretas aos seus seios atraentes. Suas cavidades e fisgas revelavam o desejável e o desejado, o cálido e o insaciável. Minhas mãos a levava aos lugares mais distantes e estonteantes; a palma de minhas mãos despertava nela loucura e ternura. Chamava-me de menestrel dos toques...
Nosso amor era virgem, imaculado e cristalino; nossos demorados olhares nos hipnotizavam, nos traduziam, nos prendiam, nos dissecavam dos pés à cabeça. Nossos encaramentos e olhares infusos eram longos e nem um pouco desconcertantes. Apenas nos davam uma dimensão de algo que não era do mundo da razão ou pelo menos, da nossa razão. Veja bem, apenas contemplávamos e degustávamos da torrente de afetos que desencadeava em nós sem explicação; sem nada entender. A nossa cama era um santuário, porém fora dela, tudo se estendia, tudo se espargia.
Nunca amei tanto, nunca fui tão amado. Cuidávamos um do outro a todo instante sem desrespeitar a privacidade um do outro. Ríamos homericamente, chorávamos abraçados, debaixo de um guarda-chuva, se necessário fosse. Reverenciávamos sempre a vida, com suas curvas sinuosas, sem nos distanciarmos. E foi assim durante anos e durante anos se reafirmou a eternidade do momento.
Hoje, estou em volta de seu caixão. Sua face, tão séria, tão rígida, deflagra a cisão daquilo que é eterno. Descobri que tudo que é eterno é vencido pela expiração da vida, porém é renovado no outro lado de um modo que apenas diz respeito a quem se foi. Se existe algo bom nisso, existe para quem se foi. Estou só. Meu samba é monossilábico, minha inspiração sucumbiu nas curvas dos ventos, minha alegria desapareceu nas areias de meu ermo. Vejo que na vida, o momento é superior a eternidade dos afetos. Como sou refém do momento, já que o tempo e a fatalidade podem ofuscar a arquitetura da beleza que nos apegamos, resta-me me relacionar com o tempo e me apoiar em muletas que me levem a ao tal “recomeço” e ao metafísico “reencontro”.
Saudade dos beijos ofegantes, abraços viscerais que me fizeram crer na eternidade disso tudo.
As horas de encaramentos e de trocas de cheiros, deram lugar a uma contemplação mórbida e arrefecida do corpo dela num caixão rústico. Encurvado ao seu caixão, pranteio a minha dor causticante. Em minha pequenez e irracionalidade lúgubre, questiono o céu e o inferno de algo que é da terra, dos seres que vivem e morrem.
Tu és tão minha que tua latente alma canta em face ao meu dissabor.
Ouçam-na: aqui
Nosso amor era virgem, imaculado e cristalino; nossos demorados olhares nos hipnotizavam, nos traduziam, nos prendiam, nos dissecavam dos pés à cabeça. Nossos encaramentos e olhares infusos eram longos e nem um pouco desconcertantes. Apenas nos davam uma dimensão de algo que não era do mundo da razão ou pelo menos, da nossa razão. Veja bem, apenas contemplávamos e degustávamos da torrente de afetos que desencadeava em nós sem explicação; sem nada entender. A nossa cama era um santuário, porém fora dela, tudo se estendia, tudo se espargia.
Nunca amei tanto, nunca fui tão amado. Cuidávamos um do outro a todo instante sem desrespeitar a privacidade um do outro. Ríamos homericamente, chorávamos abraçados, debaixo de um guarda-chuva, se necessário fosse. Reverenciávamos sempre a vida, com suas curvas sinuosas, sem nos distanciarmos. E foi assim durante anos e durante anos se reafirmou a eternidade do momento.
Hoje, estou em volta de seu caixão. Sua face, tão séria, tão rígida, deflagra a cisão daquilo que é eterno. Descobri que tudo que é eterno é vencido pela expiração da vida, porém é renovado no outro lado de um modo que apenas diz respeito a quem se foi. Se existe algo bom nisso, existe para quem se foi. Estou só. Meu samba é monossilábico, minha inspiração sucumbiu nas curvas dos ventos, minha alegria desapareceu nas areias de meu ermo. Vejo que na vida, o momento é superior a eternidade dos afetos. Como sou refém do momento, já que o tempo e a fatalidade podem ofuscar a arquitetura da beleza que nos apegamos, resta-me me relacionar com o tempo e me apoiar em muletas que me levem a ao tal “recomeço” e ao metafísico “reencontro”.
Saudade dos beijos ofegantes, abraços viscerais que me fizeram crer na eternidade disso tudo.
As horas de encaramentos e de trocas de cheiros, deram lugar a uma contemplação mórbida e arrefecida do corpo dela num caixão rústico. Encurvado ao seu caixão, pranteio a minha dor causticante. Em minha pequenez e irracionalidade lúgubre, questiono o céu e o inferno de algo que é da terra, dos seres que vivem e morrem.
Tu és tão minha que tua latente alma canta em face ao meu dissabor.
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