Jesus, Religião, Hyldon, Hermes e Ivan

Ser humano – O ser que faz da sua capacidade em descobrir, uma nova estrada. Estrada essa que não é, isoladamente, nutrida sem a poluição circunstancial, tendências culturais, gostos intrínsecos, uma herança quase que imperceptiva ou ainda, crucialmente a abrangentemente, as escolas estabelecidas por seus dogmadores. Não há escapatória. Não somos livres de nós e nem entre nós. Qualquer chamamento para enforcar-se na corda da liberdade, é um ato de chamamento para uma visão acima da plataforma da unanimidade reducionista da tal Supra-Verdade e nunca um chamamento para uma outra realidade, verdadeiramente, livre, arbitrante e improvisada.

Viver somente enfatizando a dúvida, a incerteza, o só sei que nada sei, o caminhar sendo levado pela maré das intuições, o desvendar trilhando um caminho guiado pelo vento ou pelo cheiro, PODE ser um tipo de enclausuramento parecido com os diversos segmentos cristãos. Corremos o risco de sair das grades das Religiões de vanguarda e cair, numa outra cadeia que tem cara de autonomia espiritual (é um lapso pensarmos que estamos livres de uma corrente estabelecida) ou uma autarquia à moda Casa da mãe Joana. A nossa busca frenética que revela no nosso day after day, não deveria se encontrar na busca da invenção de uma verdade legatória de Deus. Criar o já criado (uso a expressão já criado, somente para afirmar que não podemos criar nada em relação a Verdade, pois o mais correto, é afirmar que a Verdade nunca foi criada pois Ela sempre existiu e não pode ser alterada, diminuída ou acrescida) é criar por necessidade de adaptação, puramente, humana.

Deus é um. A Supra-Verdade é só uma. Nós temos que tirar os entulhos e não moldar o Caminho com as nossas tendências e nosso pluralismo cultural, estético, comportamental, espiritual ou apenas, um pluralismo da curiosidade ou de herança. A configuração do que acontece na esfera de Deus não é baseada em nossos achismos ou nossas construções de relativização ou ainda, na perda de embasamento, autenticando o pensamento livre, desprovido e totalmente aleatório. A religião, com toda a sua teologia é pra si e entre si. Vimos o Cristianismo matando a fim de que todos se tornassem cristãos. Vimos teologias que com um discurso humanitário, colocou Deus no banco para aprender junto ao Homem.

Vimos teologias que colocou toda a responsabilidade do bem e do mal, da riqueza e da pobreza, da bênção e da maldição, da cura e da doença, da queda de um cabelo, do genocídio e das tragédias naturais, para explicar a suas atrocidades na conceituação a favor da inferioridade da mulher, tragédias como um aviso divino, racismo, superioridade de uns e inferioridade de outros. Vimos entidades secretas com a intenção de cuidar apenas dos umbigos dos seus clientes ou pacientes. Vimos religiões se contorcendo para justificar seus terremotos e maremotos. Vimos religiões, em seu desespero, buscar meios alternativistas para aliviar suas dores. Vimos a enlevação da introspecção, relaxamento, hipnose, meditação como métodos de atenuamento da realidade causticante e agonizante de uma geração.

E por último, vimos a troca de religiosidade por cientificismo, que ao invés de ser usada (a ciência) para ajudar no desaparelhamento das normas e conceitos que enclausuram a espiritualidade real, ela é entronizada como alicerce fundamental para fabricar aquilo que mais se é abominável entre nós: A teologização. Que maldição! Quando a ciência trás a tona uma teoria, logo mudamos a natureza divina ao invés de, simplesmente, despirmos dos arquétipos vigentes, que são inoculados, indubitavelmente, em nossa sociedade.

Toda religião busca a Verdade, nem que pra isso precise criar uma. Quando pensamos que estamos nos livrando de um sistema fechado de espiritualidade, não nos damos conta de que poderemos entrar em outra com aparência de sombra e água fresca. Algumas pessoas julgam que se eu afirmar que é impossível aceitar a contestação da ressurreição de Cristo, corro o risco de ser julgado como alguém que se dobra a um ato isolado a tal ponto que se esse ato for invalidado, a fé e vã. Eu entendo que a questão não é o fato isolado, a questão é que se houve uma mentira, quem me garantirá que Jesus é Deus? Se Ele não ressuscitou, sua divindade pode não passar de uma lenda. Suas ações nunca serão esquecidas, mas o papo de ser Deus... Ele continuará sendo um homem muito importante. Deus continuará existindo em algum lugar. Só que o 70% do novo testamento será sempre uma boa e aproveitável mentira.

Evangelho não é sinônimo de sistema fechado. Jesus é o caminho, mas neste caminho não trilha somente os evangélicos. O que não há, são dois caminhos, pois o caminho de Cristo é suficientemente capaz de receber pessoas que o conheceram diretamente ou indiretamente. Não precisamos acrescentar a Cristo, conceitos orientais ou ocidentais que na verdade, em sua maioria, não passa de invenções regionais, oportunistas, intuitivas, e até, pragmáticas. Se o cristianismo não salva, o budismo também não. Então porque guardar os princípios dessas religiões a não ser aqueles que são os reflexos do próprio Deus? Não podemos enquadrar Deus dentro de uma religião por mais bonita que ela seja. Não adianta tirar Deus do Cristianismo é colocá-lo no hinduismo, por exemplo. Devemos colocar todas as religiões nos pés de Cristo (se não colocarmos Ele mesmo coloca!) porque Deus, por certo, pega a religião conosco dentro e joga na peneira, onde só permanecem aqueles que Deus se compraz. A solução não é fazer uma vitamina mista de religiões com seus modos espirituais. Quem conhece a Cristo, fique firme em seus pés, quem não o conhece, Deus os conhecem.

Uma história passa ser uma estória quando ela deixa de ter embasamento de realidade, tornando-se uma lenda. A questão a respeito de Jesus ter ressurgido dentre os mortos ou não, tem implicação no âmbito da Fé no Evangelho e na Lenda do Evangelho. Toda história de fé que tem sua origem em mentira, e é sustentada pela boa intenção, torna-se uma lenda. Quando se fala da irrefutabilidade de ressurreição, por exemplo, tende-se a não reduzir o Evangelho a uma Lenda (nada contra uma boa lenda! Adoro o papai Noel!). Não é que o fato da ressurreição é um dogma equivalente aos dogmas cristãos criados ao longo da história. A ressurreição é um ingrediente Daquele que, pela fé, nós cremos, não porque nós quisemos que fosse assim, mas porque Ele o quis. Ele disse que ressuscitou, ele disse que é o Caminho, Ele disse que um dia iremos morar com Ele. Todas essas coisas são objetos de fé. São crenças a partir do que o Mestre falou.Dogma pode ser Crença, mas Crença não é Dogma.

Vou usurpar dessas letras e nomear seus compositores como grandes Evangelistas! (Por favor, permita-me fazer isto de uma forma intimista da minha parte, os compositores não tem nada a ver, na verdade!). Hyldon canta para a igreja e todos aqueles que pendem ao enclausuramento das religiões.

Na sombra de uma árvore
Hyldon

Larga de ser boba e vem comigo
Existe um mundo novo e quero te mostrar
Que não se aprende em nenhum livro
Basta ter coragem pra se libertar, viver, amar
De que valem as luzes da cidade
Se no meu caminho a luz é natural
Descansar na sombra de uma árvore
Ouvindo os pássaros cantar, cantar, é...
Hermes canta a nossa pequenez, mas não faz disso,
a nossa ruína, muito pelo contrário,
ele quer mais é dançar na chuva!

Nuvem Passageira
Hermes Aquino

Eu sou nuvem passageira
Que com o vento se vai
Eu sou como um cristal bonito
Que se quebra quando cai
Não adianta escrever meu nome numa pedra
Pois essa pedra em pó vai se transformar
Você não vê que a vida corre contra o tempo
Sou um castelo de areia na beira do mar
A lua cheia convida para um longo beijo
Mas o relógio te cobra o dia de amanhã
Estou sozinho, perdido e louco no meu leito
E a namorada analisada por sobre o divã
Por isso agora o que eu quero é dançar na chuva
Não quero nem saber de me fazer ou me matar
Eu vou deixar em dia a vida e a minha energia
Sou um castelo de areia na beira do mar.
Ivan reflete a respeito do que é ser humano
no caminho em direção ao Descanso Eterno!

Depois dos Temporais
Ivan Lins

Sempre viveram no mesmo barco
Foram farinha do mesmo saco
Da mesma marinha, da mesma rainha
Sob a mesma bandeira
Tremulando no mastro
E assim foram seguindo os astros
Cortaram as amarras e os nós
Deixando pra trás o porto e o cais
Berrando até perder a voz
Em busca do imenso,
Do silêncio mais intenso
Que está depois dos temporais
E assim foram sempre em frente
Fazendo amor pelos sete mares
Inchando a água de alga e peixe
Seguindo os ventos
As marés e as correntes
O caminho dos golfinhos
A trilha das baleias
E não havia arrecifes
Nem bancos de areia
Nem temores, nem mais dores
Não havia cansaço
Só havia, só havia azul e espaço.

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