Chegamos aos 500 anos. É muito
tempo. Tempo suficiente para a igreja protestante desenvolver suas raízes
totalmente livres daquele período, onde a Igreja Cristã tinha se transformado numa
poderosa máquina de manobra política, com suas capitanias dominantes na velha
Europa.
Para uns, a reforma foi apenas
uma dieta. Não houve uma mudança, positivamente, drástica, entendendo que a
única medida exponencial foi o rompimento político e ideológico, porém ainda
sim, presa em novas grades de dogmas e presa em alguns dos velhos dogmas com ou
sem novas aparências.
A reforma realmente inaugurou um
novo tempo na era cristã e hoje, ela se desdobra em diversas correntes que se
classificam como igrejas protestantes, contudo, inevitavelmente, ficou
constatável o que se estabeleceu nesses 500 anos - há 500 anos sendo o que se é
ainda hoje -: um imenso tabuleiro dogmático.
Todo o corpo que rege a instituição
protestante deve refletir sobre a intocabilidade das peças deste tabuleiro,
para que, de fato, divorcie-se de sua mãe. Já passou da hora de mexer no DNA da
questão.
As chamadas “doutrinas”
estabelecidas dentro das concessões protestantes, privatizaram o Evangelho com
o mesmo ideário da velha instituição, ou seja, fundaram seus próprios preceitos
para regrar o ser humano a fim de que este se salve, indispensavelmente,
vinculado com a igreja. Não é a toa que a igreja protestante não realiza
casamento (ou realiza timidamente) de um de seus membros com alguém que não
professa a mesma fé (“luz com trevas”).
E nesses 500 anos, as oligarquias
religiosas, com seus impérios excêntricos, foram dando espaço ao mais novo
imperialismo moral, e não tão menos imponente, dos protestantes.
Contudo, penso que a Reforma,
mesmo que ela não tenha conseguido levar a fé cristã ao evento místico da
conversão de Saulo ou do eunuco, onde apenas se espargia o poder da expectação
de uma nova vida sem conventos propiciatórios e que, para mim, seria o êxtase
da reforma, serviu como um sinal na Terra: ainda precisamos trilhar um caminho
gigante para chegar ao ponto de partida, antes dos primeiros passos da
privatização da fé cristã dos primeiros anos.
Esse trajeto, já iniciado
voluntariamente, por pessoas aqui e ali, passa a ser utópico quando se pensa em
instituição, visto que estamos indo de mal a pior e se há pastores que lutam
para tecer uma nova teologia ou novas teses reformistas, seria melhor começar abrindo
para novos horizontes na práxis; começar a abrir mãos de suas doutrinas
exclusivistas a fim de se abrir para o serviço a sociedade, sem conventos
salvíficos e sem parâmetros que não seja a cordialidade e o amor. Teologia por
teologia, gera apenas novas teologias.
Que a próxima teologia seja a de
desconstrução de suas muralhas e serviço a sociedade sem fronteiras e, definitivamente,
na práxis.
Que a única doutrina seja o amor.
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