O STF e a questão homoafetiva



"O sistema político que rege a humanidade é a maior religião que existe"

 Enquanto o STF caminha para o reconhecimento da união de homossexuais, há quem acredita que isso irá acabar com a procriação, família ou que Deus vai destruir a Terra, como se esta união não existisse ainda e que apenas espera o “start” do STF para acontecer. O reconhecimento que está se firmando, existe apenas para oferecer uma cor de igualdade entre os seres pluralistas de nossa sociedade. A celeuma sempre existe, haja vista, ante a segregação racial, não muito tempo atrás, o absurdo era defendido com a bíblia na mão ou simplesmente como um costume social-hereditário, de considerar o seu próximo-ébano-humano, como sub-humano.

- A pressão de alguns, fizeram a diferença sobre a opressiva maioria -. Sempre foi assim, pois a maioria, inapta como sempre, funciona como um bando de alienados de prontidão e que dizem “sim” a qualquer absurdo legal. Uma vez que os protestos levam a mudança da realidade, - o absurdo se tornando ilegal - a maioria, subserviente, incorpora a mudança e se adequa a nova realidade. Então viram reacionários que já não mais agride o negro, o trata como gente, porém não pela meta-nóia a favor da igualdade, mas sim por mero “serviço a lei”. Viram um bando de “nazistas” que abraçam o judeu enquanto o Hitler tiver uma crise de judaísmo – são os tolerantes por conveniência.

Não obstante, passa-se o tempo, muda-se a temática e as convenções e conversões acontecem pelas mesmas vias, com as mesmas reações. As pífias argumentações viram fortes cortinas para tolher aquilo que não cabe no mundo ideal dos tais argumentadores. Este tipo de embargo, antitético ao processo de construção de uma sociedade, se auto-engessa e só é derrubado (nunca convertido ou evoluído) com força de uma minoria que dá a cara às tapas e as costas ao chicote. Enquanto Deus se entremete em favor dos injustiçados, os diabos resistem, sangrando a todos.

A boa-nova é que o ciclo do mal sempre se abala, mesmo a despeito da nova repressão que amanhece ou perdura em outro segmento e em outro lugar. Quando uma vítima se sobressai de seu poço, ela sempre dá lugar a uma nova vítima. É como se numa sociedade fosse essencial ter os subumanizados. O sistema político que rege a humanidade é a maior religião que existe, pois por trás dos interesses em manter o predomínio do absurdo, existem leis pétreas fundadas em critérios que são definidos por pressuposições superiores a realidade humana.

Por exemplo: O que gera a proibição de duas pessoas de mesmo sexo se unir, se não for a ideia religiosa onde “Deus estabelece o relacionamento heterossexual”? Ora, proibir aquilo que é o desejo de duas pessoas, tendo como fins originários puramente “superiores”, não seria um dogma religioso? Tirando o tal dogma, qual justificativa nós teríamos para proibir tal desejo da vida dos outros? Não tenha sombra de dúvida, que a estupidez do Homem antigo é o mesmo que vivenciamos hoje, apenas muda-se o pano de fundo. O estúpido é como uma verminose no meio da sociedade, que mais cedo ou mais tarde, é atropelado pela sua própria fraqueza insustentável. Argumentos lhe sobram sobre um chão árido e rígido, mas sempre nasce uma flor e que hoje, esta flor é colorida.

Não costumo ficar calado diante qualquer dilema onde uma minoria é oprimida por uma maioria cruel. Na pauta, de hoje, no Brasil, fico contente ante a evolução da harmonia social. Onde, uma classe, dá um passo importante para a dignidade perante as leis do Brasil. Talvez cheguemos num período onde “as classes” se tornem apenas uma classe, uma sociedade de verdade e deixe de ser um conluio de grupos que se impõe ou se matam entre si. Enquanto isso não acontece (ou nunca aconteça) vamos contemplando melhorias aqui e acolá, com evoluções, involuções, porém dando amparo e igualdade a alguns.


Negros eram reprimidos por uma interpretação e aplicação de dogma superior. Isso foi superado e todo o dia é dia de superação de conceitos. Hoje tivemos um exemplo disso. O choque que o reconhecimento da convivência homoafetiva está causando, demonstra como estamos longe da igualdade em sua abrangência, visto que uma questão simples, como de fato é, vira um cancro que incomoda milhares de pessoas. Um dogma levianamente interpretado pela religião, se transforma num abalo sísmico contra a Boa-Verdade, porém não causa nenhum arranhão. Ela, a Boa, sempre vem a tona.


Um dogma religioso incorporado há milênios, ganhando um poder descomunal em via de tradição e cultura, uma vez que é inspirado pelo Estado, vira o absurdo em berço esplêndido, com uma couraça alienadora e um ranço que só sai com o tempo sobre o tempo. Até que chega o tempo em que se perguntam: “A Humanidade já fez isso?” Concluo com uma citação do deputado, Chico Alencar: “STF...até aqui por unanimidade de votos, mostra que o Direito deve estar em sintonia com vida real e com o fundamental: afeto.”

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