Ao longo da história, considerando séculos de escravidão
e de tolhimento a liberdade, a vida privada, em sua propriedade patrocinada por
leis de direitos humanos, vem se diluindo com ou sem o consentimento do Homem.Os teóricos já constatam o fim da vida privada por conta
da era da informação e mais, por conta da vida alocada em rede.A tecnologia que viabiliza a interação do Homem consigo
mesmo, o torna compartilhado, formatado, exposto e refém. Já não mais
compartilhamos intimidade na rede global de informação, o nosso perfil na
rede é a própria extensão de nossa intimidade.
Legitimamos o “quem somos” de um modo colateral:
tornamo-nos quem queremos ser e influenciamos quem quer que seja através de
perfis idealizados e moldados conforme o aprofundamento do vínculo social
em rede. Isso quer dizer que, transversalmente, somos uma geração que
influencia e se deixa ser, através duma nova ambiência que já não mais faz
questão de processos sucessivos de relacionamentos e conhecimentos gradativos.
Tudo é posto, basta assumir-se inseridos. Uma vez inseridos, os sentidos
existenciais vão individualizando a cada um conforme o grau de inserção. Isso
acarreta experiências boas e más.
Todo o sistema sofre um impacto com isso, pois uma rede
que cria uma grande teia de gentes que trocam informações e moldam suas
opiniões como se fosse uma grande discussão em praça pública, pode erigir
problemas de controle, padronização e representatividade.
O fim do controle está nas mãos da acessibilidade
exponencial a interação em rede.
Ganhe-se e perde-se muito. Erige-se uma força que muda
realidades, porém tira o limite do íntimo e do privado.
E-mails, celulares, identificações e etc., colocam um fim
na intimidade. Alguém desconhecido sempre terá acesso a troca de informações
sigilosas, íntimas e privadas.
Engane-se quem pensa que não se pode ter acesso a vida
pública (aquilo que é para ser exposto), íntima (aquilo que não é para ser
exposto) e privada (aquilo que é para ser exposto apenas para alguns) em rede.
Grandes empresas já se fartam de informações pessoais
para montar o seu público alvo e isso acontece com acessos a dados e acessos
aos perfis que vamos criando conforme a interação em rede.
A necessidade de conexão dentro da sociedade está mais
que casada com a tecnologia vigente e essa nova face de interconexão em rede
tecnológica, é crucial ao adolescente e jovem de hoje.
Faz parte da vida de um jovem se relacionar com o seu
semelhante por via da rede virtual e há uma forte tendência de crescer a
pluralidade de conexões a fim de que se rompa fronteiras e que lhe permita os
vínculos mais inusitados.
É necessário se discutir o que seja vida privada, se é
que podemos ainda se utilizar desta expressão, no mundo de hoje.
Estamos caminhando para um período onde aquilo que se
confinava entre quatro paredes, torna-se de domínio de setores privados com um
fim específico; para que seu perfil seja traçado na rede.
O bom disso é que esta teia social muda a realidade
global e pessoal, como já temos visto diariamente. O ruim, é que toda esta esfera
social será influenciada com um tom de controle, pois nada neste mundo
permanece por muito tempo com alforria.
A convivência dentro desta macro-rede está enxertando
informação, das mais banais até as mais sérias, vinculando-as sem trégua,
posto que ela ofereça um papel crucial ao ser humano: ela apresenta
entretenimento, cultura, arte, companhia, holofote ao ego, janela pro mundo,
vislumbre de fatos que ocorrem em qualquer canto do mundo, atenua conflitos
internos, sana dúvidas, proporciona encontros e aproximações, aguça
conhecimentos, paixões, inteligências, sabores, dissabores, curiosidades, dita
moda e tendência, revela outros comportamentos e gostos e principalmente, dá o
poder de escolher quem serão os seus amigos virtuais de modo muito simples e rápido.
Outro fato é que o Homem sempre teve vontade de
compartilhar tudo o que acontece em sua vida, por mera necessidade ou prazer,
por mera vaidade ou por um mero desejo de que alguém tire um proveito ou que
ele consiga aproveitar algo com isso.
A rede social deu um microfone para cada indivíduo e
cada um grita o que se é ou gostaria de ser e a verdade é que muita
gente tem se tornado o que sempre quis ser por causa disso, levando em
conta que a rede se torna cada vez mais, uma extensão nossa; de corpo-e-alma; e
digo que seja uma extensão nossa porque estamos exportando mais a nossa persona
da virtualidade para a nossa realidade do que o contrário.
O indivíduo que interage de modo saudável ou não, porém
com freqüência na rede, vai escolher o molde do seu “eu” onde ele estiver mais
experiência, aprendizagem, vínculo e interesse e a rede permite isso, como uma
enorme bandeja abarrotada. Já a realidade, depende de processos e
gradatividade, podendo ficar para trás no quesito “influência primária”.
É óbvio que tudo que assimilamos se traduz na realidade,
no chão da existência, porém aquilo que acontece na mente e que trabalha como
uma esponja de sucção de desejos, conhecimento, informação e vínculo, pode se
dar parcialmente ou integralmente em outra ambiência e consequentemente,
pode-se alterar a rota da evolução do pensamento, da política e de todo o modus
vivendi do ser humano.
Já chegamos num estágio onde a idéia de "um mundo
para cada um de nós", está posta com raízes fincadas e isso não tem
volta.
A vida privada sempre existirá, não como antes, mas
conforme vamos delimitando sem desconsiderar a vida compartilhada em rede e que
por sua vez, faz de nós, produtos de um meio, com responsabilidades (entre si)
de alimentar tudo isso e potencializando, não o poder de liberdade, mais de
influenciados e influenciáveis.
Estamos construindo um mundo social de influências de
massa, onde todos os que têm o microfone na mão, consequentemente têm o livro
aberto de suas próprias vidas, pronto para ser interpretado e rabiscado e este
mundo é o mundo de se tirar proveito, quer seja negativo ou positivo; quer seja
destrutivo ou instrutivo e acima de tudo, inexoravelmente relevante no mundo de
hoje.
Em suma, em um mundo onde cada um estabelece seu próprio
“Admirável mundo novo”, fica claro que não há mais vida privada que não se leve
em conta os vínculos em redes ora estabelecidos, que muito mais que dizer
sobre o tal indivíduo, encontra-se parte dele nesta grande rede.
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